OS POSITIVOS

reaccionário a favor

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Comics won a bunch of awards, in many ways an expected coronation of the medium at a time when the environment surrounding it is in need of something to champion.
in "Grangling" 28 jan 2020

Sem nada no campeonato só avançámos com o título acima porque outros se adiantaram ao «Old Masters: A Comedy». Prosseguimos no seu contrário com lições de moral, desta socorrendo-nos da prosa de José Pacheco Pereira (*)Sem ligações, artigos que se escusam atrás de paywall e nos chegam por outras vias ficam sem referências. para eterno clássico do antigamente é que era bom: "Este é um artigo reaccionário, simplista, mas que do ponto de vista do autor é verdadeiro". He had us em reacionário.

Vários meses e demasiados posts depois de tentar repassar por aqui 500 anos da decadência da cultura ocidental (*) Googlar P+ e Barzun sff podemos ser bem mais sucintos no mashup generoso deste autor que não vai de modas:

No passado, a importância simbólica das diferentes idades e das experiências a elas associadas, assim como o seu valor social percebido, foi muitas vezes bastante distinto.

Por várias razões, os adolescentes, os jovens, estão na moda, e as crianças e os adultos, já para não falar nos velhos, não estão. (...)Daqui seguem-se uma série de estereótipos que, se forem analisados, não dão os resultados que todos pensam dar e se revelam ideias feitas. Estes estereótipos são repetidos por páginas culturais e jornais de referência sempre a descobrir jovens talentos que não duram um ano, escritos por jornalistas de meia-idade que pensam que têm 18 anos. (...) Há várias coisas que os jovens não fazem, e uma é ler livros e por isso o estereótipo da "geração mais bem preparada" é um daqueles mitos que gostamos de alimentar, mas que soçobra ao mais pequeno concurso televisivo de perguntas "culturais", ou inquérito de rua sobre se conhecem Cesário Verde, ou sobre o que estão a ler. (...) Vão-me dizer que não precisam de saber essas coisas, mas que têm outras "competências". Uma treta que não passa de saber usar um telemóvel, ou colocar posts e imagens no Facebook e no Instagram. (...) Também me vão dizer que milhares de jovens pelo país fora participam em grupos de teatro, são "artistas" plásticos, são músicos de talento, e há toda uma indústria subsidiada pelo Estado e pelas autarquias, que sem gente "nova" não existiria. Sim, é parcialmente verdade, mas experimentem usar um qualquer critério de qualidade (mesmo neste período de intangibilidade da cultura, eles existem…) para lhes medir o mérito.

...concluindo em experimentações que lixam os miúdos ao/pelo meio:

Tratando-se o "meio" de outra forma, sob pena de se fazerem enormes esforços sem qualquer resultado útil, ou, dito de outra forma mais crua, vale mais investir e muito nas crianças e nos adultos, e aí concentrar os recursos escassos, para obter resultados sociais que depois atingirão os "meios".

Capazes dos esforços sem resultados mas incapazes de desistir dos miúdos, abandonando-os sem mais reparos no altar do capitalismo selvagem quando o hedonismo da idade lhes leva a melhor, de bom grado ocupamos esse espaço que despacham como um entretanto de idades melhores: os teen-flip-a-burger são o nosso público-alvo e é a esses que agora nos dirigimos para responder à dúvida maior que os desassossega desde que começaram a — cof cof — ler esta entrada. ´Tão:

No atirar pedras aos putos que se esgotam na caricatura acima contem igualmente connosco, especial pontaria ao artsy-farsty que escala patamares de mérito intangível ou os submissos do face-a-gram e instabook. Mas este discurso rosna perigosamente perto do desdém que calcou no imaginário comum estereótipos, ideias feitas e mitos como o BD-é-para-crianças-e-os-Corto-Maltese-as-excepções para não nos merecer comentário. O longo historial da banda desenhada descartada como futilidades menores presta-se a exemplo, e esperamos que os dois que se seguem aborreçam suficientemente todos aqueles cuja autoridade arrogada lhes advém de saberem se Verde era César mas desdenham linguagens de texto e imagem capazes de invocar outros imaginários.

Primeiro exemplo aos que mais imediatamente reconhecem a ameaça que os comics são à literacia, bibliotecários como o próprio PP ao serviço da salvaguarda dos bons hábitos de leitura e livro-objecto-físico. Brincamos, afinal recomendam: na American Library Association os comics estiveram em alta no seu Youth Media Awards mais recente.

The first time a graphic novel has won the medal outright, awarded for the best literary work, as a book, not as a graphic novel or illustrated work. It won because of the story presented, which just happened to be told in words and pictures.
in "Jerry Craft’s NEW KID wins Newbery & King awards as numerous graphic novels are honored by librarians" 27 jan 2020

Obviamente na senda de investir nas crianças e apanhá-los em idade impressionável antes da puberdade os tornar uns blob de hormonas, pus e outras substâncias pegajosas. Se indecisos entre arrumar essa a benefício da BD ou detrimento da leitura, concordemos em ver nesse exercício a inexorável marcha do tempo? — e aqui começa verdadeiramente a calinada do senhor de hoje:

Today’s librarians are accepting of a variety of texts. Long gone are the days of gatekeeping librarians promoting wholesome books while suppressing and ignoring more popular, less serious works.
in "Jerry Craft’s NEW KID wins Newbery & King awards as numerous graphic novels are honored by librarians" 27 jan 2020

Ideia a martelar no republish no TCJ.

As more and more young librarians move up in the ranks at the more powerful branches, they bring with them the experience and knowledge that comics can move reading in a frenzied, extreme way. Does it matter that half of those conversations still include language describing comics as some kind of medicinal crutch, designed to coach "reluctant readers" across the bridge of culture--in essence, a remixed and moralistic lacquer on the criticism of old, that comics aren't really reading? I don't know.
in "Grangling" 28 jan 2020

Os wholesome books vs less serious works abre portas ao nosso segundo exemplo da decadência geral que aflige as horas, a adaptação de um romance sério em BD rasteira com "a masterful little stab at illustrating Thomas Bernhard (*)"Thomas Bernhard is a dead and grumpy Austrian author whose books feel longer than they are."
"Mahler is a living Austrian author with more than fifty books in his body of work, including adaptations of Robert Musil and spam emails, as well as numerous collection of comics and visual poetry, plus a handful of short films and theatrical productions."
one of the least visual writers of the previous century"
por Nicholas Mahler:

The story of Old Masters can be summed up in a couple of sentences: the archetypal Bernhardian disgruntled intellectual (Reger), spends most of his time sitting on a bench in front of a painting he doesn't particularly like (Tintoretto's White-Bearded Man), then asks the narrator to accompany him to a play he doesn't particularly want to see. Together they go, and the play turns out to be predictably terrible. The last development takes up a single sentence, while various rants on the state of art and nonart expand for dozens of pages, all with the usual asides you would expect from Bernhard: plot scraped away and words reduced to punctuation.
Roman Muradov in "Old Masters: A Comedy by Nicholas Mahler" 28 jan 2020


"no matter how many great minds and old masters we have taken on as companions, they do not replace a human being"

Ah, grumpy disgruntled intellectuals. (*) E de comparações comparadas esta é para consumo próprio: desconfiamos que temos com a BD a mesma relação que o protagonista tem ao seu quadro-favorito-que-mais-detesta.

It's apposite that Bernhard chose a somewhat minor work of art as the centerpiece of the novel, and as a source of comfort to Reger, and it is doubly pleasing that no one in the book seems all too interested in the painting itself. If anything, its presence chiefly justifies the bench to which Reger confines himself, with art as a mere ornament.
Mas deles a redenção possível:

"The human mind is a human mind only when it searches for the mistakes of humanity," Reger says. The focus, however, is not on the criticism itself, but on the search — the process of scrutiny and questioning.
Roman Muradov in "Old Masters: A Comedy by Nicholas Mahler" 28 jan 2020

Sem surpresa a próxima geração recordará a seu tempo a cultura que os acolheu com assombros de melancolia, os reguilas que se seguem terão a sua vez ao ditar das modas, algumas dessas recuperarão entradas de eras passadas, outros esvanecerão sem que lhes saibam apreciar genialidade, a cultura não é monolítica mas com os seus high & lows, não lamentamos o grunho, celebramos o grunhido. Não imponham restrições, somem opções.

That's not all of course.

Um tema que dificilmente podemos encerrar numas quantas metáforas de comics, mas testamos a vossa paciência com um último cite:

But it's not all grief and art theory. The novel is subtitled "a comedy," but one can hardly be expected to chuckle along with this expertly crafted, but often quite tedious flood of bile. In common estimation, Bernhard is more enjoyable to have read, rather than to read. Mahler's version of Old Masters sifts out the humor and puts it on a pedestal, making the whole thing far more amusing and readable. I'd even go as far as to say that Mahler's book is a better starting point into Bernhard than Berhard himself. Reading it is like listening to a kindly professor explain why this difficult dead man is worth your close inspection, with charming little drawings to illustrate the point.
Roman Muradov in "Old Masters: A Comedy by Nicholas Mahler" 28 jan 2020

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