OS POSITIVOS

três Farrajotas ao lado

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in "Pentângulo #2"

A fazer as vezes do catálogo de semestre para o departamento de bonecos do Ar.Co em parceria com a Chilli Com Carne e apoio do Instituto Português de Desporto e Juventude, no qual misturam consagrados e estreantes numa saudável promiscuidade — palavras deles, insinuações nossas — que dá merda logo ao virar a capa.

"they were told to stay quiet"
Além de BDs cada vez i) mais ousadas, destacamos para o acréscimo de ii) mais textos de reflexão e informação, algo que a comunidade ligada a estas Artes foge ou tenta ignorar, aqui não. Desafio que lançamos, que tal iii) uma banda desenhada que discuta sobre banda desenhada? Quem sabe para um número futuro...
in "Pentângulo #2" dez 2018

A maior ousadia de todo o livro é talvez este parágrafo. Demarcam-se duma comunidade que ignora e foge de reflexões e propõem-se para futuro indeterminado o desafio duma BD-que-discuta-BD? Senhores, senhores!?... Também se perfilham pela sátira nessa busca? Aqui-também-sim, e vemos reflexões ao espelho, o que se propõem já o fizemos na primeira metade da década passada com um zine seminal da crítica nacional 6 fev 2014, 60 páginas de letrinha apertada a mal chegar para tanta cogitação e 25 dessas uma intro com comics a rasgar o tema — sublinhamos o "rasgar", intencionalmente distribuído com uma página arrancada à mão, sonegação repetida na edição online, hint-hint.

ah-ah-ain't-sayin'nuthin' 2016

Um desconhecimento de causa que se poderia perdoar não suspeitássemos na coordenação editorial um tal Marcos de Farrajota, quiçá o mesmo que páginas adiante assina um relatório em fanzines e edição independente para — não "de" — 2018, mas esse ter-se-ia certamente prontificado a emendar asneiras, cremos. Excepto claro, não. O primeiro erro crasso de três num mesmo livro, todos pela pena de sujeitos com nomes idênticos. Vamos a eles.

Fun fact: não temos coligido assiduamente os escritos de MF no tópico porque, entre outras razões, estes saltitam de sítio em sítio e nós temos uma vida própria ainda que por vezes pareça que não. Mas nunca perdemos ocasião para os comentar, e desconhecendo que havia insert neste Pâ#2 foi uma surpresa agradável tropeçar na coisa 😊.

Seguem-se o "outras razões" ---

Tendo nós próprios distribuído 3 publicações no ano que trata, folheando o seu relatório notamos lacuna e começamos a suspeitar que talvez esse não seja um levantamento terrivelmente bem informado. Brincamos, sabemos que não o é. Os zines são um bicho difícil de apanhar, particularmente aqueles que se querem mais escorregadios e se escondem desta Instituição e associados — pun intented!

...Previously #12,#13,#14 2018
( zines tão raros e obscuros que não os encontrarás nos compêndios oficiosos )

Habituados a ignorarem as fotocópias fajutas na contabilidade dos crescidos:

De fora, ficam, por isso, as edições de autor, os fanzines, os prozines, as edições institucionais de distribuição limitada…
in "2019: Os números" 1 jan 2020

...admitimos pacificamente que o próprio Farrajota só fale do que pode:

Farrajota, dado o seu interesse pessoal e profissional pela temática e o acesso facilitado a todas as obras que chegam à Bedeteca de Lisboa, gera relatórios incontornáveis a quem se interessa pelo estudo da edição independente e/ou com distribuição alternativa da banda desenhada [mas] é uma área em que ninguém poderá nunca assumir que é detentor de uma listagem integral das obras publicadas num determinado ano – já tivemos, por exemplo, a experiência de um autor nos dar a indicação de que não tinha interesse em divulgar um zine que descobrimos, uma vez que só tinha produzido 4 exemplares numa brincadeira para amigos.
in "Portuguese Small Press Yearbook 2018" 2 jan 2019

Tst tst, com amigos desses. Anyhoos, do próprio é sabido que se limita às publicações a que tem alguma afinidade, um universo que se cingirá aos zines de boutique, do circuito à festa, a edição in-virgula-dependente. Fora dessas dependências OS POSITIVOS serão neste momento, provavelmente (*) Sustentamos tese sem qualquer investigação ao assunto., o zine de BD português mais antigo ainda em actividade (a)periódica 1997- presente, mas gerações futuras só os redescobrirão na arqueologia de listas alternativas à alternativa.

os fanzzine 2003

A mesma falha no mesmo livro que podemos apontar a outro investigador de coisas passadas-ao-presente num outro reflexo de um tal de (tã-nã!) Marcos Farrajota, que nos apresenta na sua enumeração gay mais uma história incompleta da BD nacional desafecta à normalização dos kinks de cada um ou a sua supressão do espaço público. Os seus comics et LGBTI+ teriam maior pertinência tivesse trocado impressões com o Farrajota dos zines, este poderia tê-lo informado da ramboia e badalhoquice que podia encontrar nas páginas dos P+ — se! esse primeiro suspeitasse deles sequer: não é um tema apregoado, bandeira agitada, rótulo pegado, nem cremos que o tenha de ser. Um desvanecer duplamente oneroso (triplo? perdemos conta, é meter uns em cima dos outros...) porque se Farrajota do povo do alfabeto evita Marcos dos alternados, poderia sempre tentar gracejos com Pedro Moura, o único outro autor de prosa corrida neste volume 2 do Pentângulo, e que estende justamente das práticas do coito aplicadas às reminiscências da memória algumas páginas antes. A nossa deixa a revisitar um texto seu mais antigo onde aborda sexualidades ao quadradinho "que nada tem de universal e constante". Relativizemos, de inconstâncias, com a nossa trip nostálgica:

...de maneira a que não é um discurso embandeirado, mas uma constatação da existência humana
Apesar de todos os avanços, a sociedade portuguesa ainda é particularmente pautada pela heteronormatividade, onde a exclusão ou a tessitura de um discurso sobre "diferença" (seja esta construída sobre bases fisiológicas, cognitivas, culturais, etc.) ou a "tolerância" (implicando a necessidade de confirmar o "normal" e aceitar — ainda que com um sinal de cidadania à parte – os "diferentes") está na ordem do dia. [...] O mundo da banda desenhada é particularmente opaco a essa abertura, bastando pensar no número e modo de "emprego" do lesbianismo contra o da homossexualidade masculina: o primeiro serve de entretenimento, o segundo de tabu. Nas exposições e festivais, por exemplo, poderá haver uma mostra de erotismo e mesmo de pornografia, mas tem de se garantir a sacrossanta heteronormatividade, pois qualquer imagem que aponte a um território gay é vetada ou colocada sob domínios muito exclusivos. Isto é, as obras sob discussão jamais poderão ser "primas" por serem "localizadas". [...] A inclusão de "famílias alternativas" na cultura popular não é algo de recente, mas foi necessário atravessar muitas barreiras até chegarmos ao ponto em que as produtoras de sitcoms optam por explorações como Família Moderna e The New Normal. No entanto, essa "normalização" precisa de duas vertentes críticas fundamentais: em primeiro lugar, não esquecer o papel de resistência que materiais anteriores tiveram, abrindo caminho contra o preconceito através de obras que exploravam o quotidiano de um modo inteligente e descontraído, sem mergulhar na comédia banal [...]; em segundo lugar, a proeminência destas séries não nos podem fazer esquecer tampouco o trabalho que ainda há a fazer para derrubar a ideia de "normalização" e, sobretudo, a identificar o tipo de ideias feitas que são confirmadas pela própria existência dessas séries.

A que propósito roçava PM frentes de sexualidades desviantes? Ora, escreve-o num comentário à série dOS POSITIVOS de então no "[D]ejected Omnibus. Os Positivos (auto-edição)" 26 set 2013. Em acelerado:

alguns [D]ejected 2009-2013

[D]ejected parece tirar um prazer imenso do melodrama, por vezes mesmo com contornos de histeria, para fazer "entrar" – com a subtileza de um pé de cabra? – essas ideias numa perspectiva societal normalizada.
in "[D]ejected Omnibus. Os Positivos (auto-edição)" 26 set 2013

Não será uma entrada consensual aos anais de cómicos trans/lesbo/gay, mas pouco dos P+ se recomenda em geral e a história não se escreve apenas do que queremos recordar, às vezes conta-se o que aconteceu. Ninguém pode deixar de ser um produto do seu ambiente, teríamos toda uma outra sensibilidade ao assunto se nos tivessemos feito homem no Chiado hoje e não em Chelas nos noventa. Talvez os mesmos temas ou outros, mas outro toque, e depois o twist – querem simples? Patinhas.

[D]ejected não está interessado em explorar os eventos em si, formas de choque pela obscenidade ou a representação directa, mas através do melodrama que emerge da discussão verbal entre as personagens. E, como nos projectos anteriores (...) os jogos mesmo estruturais de atenções diversas entre os grupos internos de personagens (...) tornam todas essas discussões extremamente movimentadas, apesar de superficialmente parecer estarmos apenas a observar pessoas numa sala.
in "[D]ejected Omnibus. Os Positivos (auto-edição)" 26 set 2013

Sem comentários, estão no comentário. Esta comentamos:

Uma das questões que nos parecem ser colocadas nesta história é até que ponto é que a forma de aceitarmos essas sexualidades levará a um mais equilibrado relacionamento humano? Isto é, aceitando que partimos de uma qualquer posição na qual existe um preconceito quanto a "alternativas" [...], o que sucede quando somos confrontados com situações menos habituais na nossa experiência? Como acomodar essa nova experiência? Em que medida a nossa perspectiva social é alterada? De novo, o curioso de [D]ejected é que não há qualquer tipo de apresentação argumentativa, dogmatismo ou exposição programática: há uma narrativa melodramática que nos coloca de chofre num canto e nos obriga a mergulhar nessa mesma realidade.
in "[D]ejected Omnibus. Os Positivos (auto-edição)" 26 set 2013

O que parece por estas bandas, engana. É complicado mas tentamos, outros haverá que confrontados com os seus próprios preconceitos às alternativas que lhes chocam hábitos, viram costas. Seja. A haver um happy ending aqui é que todos devem ser livres do fazer como querem.


Xtra em take aways. Não editamos nenhum zine em 2019, o que fará do previsível próximo relatório o mais exacto de tempos recentes. Obviamente, a contrariar, e para 2020 temos intenções de distribuir aos peeps um zine comemorativo, colectânea de rants e histórico das várias edições dos P+ com momentos chave destes, republish de textos e comix espalhados online que nunca foram ao prelo. Se não registarmos cronologias que nos toca, quem o fará? DIY, diz o credo. E temos título: o próximo zine dOS POSITIVOS 2020 chamar-se-á simplesmente "MARCOS".

"...da história dos P+" no muito small print. O press release anunciará ao mundo "OS POSITIVOS publicam Marcos", e talvez possamos tentar MF e PM a uma perninha nos blurbs à contra-capa, ou até textos mais compridos, espessos, suados mesmo, daqueles ordinarecos, difíceis de entrar e que doem ler.

♪ These evil streets is rough ♪
♪ Ain’t no one we can trust ♪
♪ Either roll with the rush or get rushed ♪
♪ Cause all we got is us ♪

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