OS POSITIVOS

falsos insolentes

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Creio que não será possível compreendermos a alta cultura moderna se não encararmos o facto de que grande parte dela — talvez, a maior parte dela — é um fingimento.
Roger Scruton in “A Cultura Moderna” 1998

Não somos nós que o dizemos, mas Roger Scruton, paladino da alta cultura. Retomando ao i) establishment modernista, o ii) kitsch e a iii) pop: para os dois últimos vão ler o livro (*), escolhemos atacar o establishment.

*) Nossos ah-ah-highlights: o autor cruza arte ao marketing & publicidade, "modelo fantasioso de afiliação" e "um exercício de satisfação de desejos", linhas à frente enumera aquele outro meio desprezível que exercita fantasias, desejos e afiliações, a banda desenhada. Kudos.

Os grandes modernistas (...) principiaram por ser difíceis — intencionalmente difíceis — para estabelecer um bastião efetivo entre o terreno elevado da arte e o terreno pantanoso do sentimentalismo popular. E, uma vez que eram difíceis, medrou em redor dos modernistas uma classe de críticos e empresários que oferecia a iniciação ao culto modernista. Esta classe de empresários começou a promover sistematicamente tudo o que fosse incompreensível e escandaloso, evitando assim que o público considerasse os seus serviços irrelevantes. É uma classe que deve muito ao patrocínio do Estado, já que este é, hoje em dia, a principal fonte de financiamento da alta cultura; beneficia da displicência serena da burocracia e tem o poder de recompensar os «peritos» incumbidos da sua supervisão. Fomenta um novo tipo de personalidade, a quem anima o pedantismo de uma era que já não existe, determinado a mover-se ao sabor dos tempos, embora compreendendo cada vez menos em que consistem, afinal, esses tempos. Para se convencer de que é verdadeiramente um progressista ao comando da vanguarda da história, o novo empresário rodeia-se de outros como ele e promove-os nos círculos relevantes da sua classe, esperando ser promovido de volta. Assim nasceu o establishment modernista. (...) Onde antes existia a austeridade modernista, surge, pois, uma espécie de insolência institucionalizada. As galerias públicas e as grandes coleções foram preenchidas com a amálgama pré-digerida da vida moderna, itens pretensiosos com os quais se fazem negócios e cujo prazo de validade expira assim que passam a estar em exposição permanente.

Os modernistas tentaram resgatar a arte erudita do mar da emoção falsa, mas foram tomad@s de assalto por uma seita de empresários. O modernismo foi, desde então, rotinizado e despojado do seu propósito.
Roger Scruton in “A Cultura Moderna” 1998

Já se nos torcerem o braço à procura de paralelos com BD: ditto!, menos o $$$ e mais o artsy-farsty. Mas kitsch & pop escusamos de desenvolver aqui & hoje, cremos que já fizemos a nossa quota-parte nessas frentes. Anyhooos, segue sátira alheia:

Os artistas deixaram de evitar o kitsch e acabaram por adotá-lo de uma forma preventiva. O resultado poderia definir-se como um «esvaziamento preventivo» da cultura: não uma nova forma de arte, mas um fingimento elaborado tomando os lugares da arte, da fruição e da crítica.

O artista finge levar-se a sério, os críticos fingem ajuizar sobre o produto final e o establishment modernista finge promovê-lo. No final de todo este fingimento, alguém que não conhece a diferença entre publicidade e arte decide que deve ir às compras.
Roger Scruton in “A Cultura Moderna” 1998

estamos perante farsas elaboradas, uma falsa sátira

Dis/con/cordantes como de habitual, "esta história diz-nos algo sobre a situação da nossa cultura"

Neste ponto será oportuno atentarmos de novo nas aspas pós-modernistas. Afinal, talvez elas sejam aquilo que parecem: não um sinal de sofisticação, mas um sinal de fingimento.
Roger Scruton in “A Cultura Moderna” 1998

fingir fingimento