OS POSITIVOS

hoje, a bd

Roubamos título a um dos mil colóquios 1996 / 1999 editados pelo falecido João Paulo Cotrim, aos quais somámos outros dois salões lisboa para a prateleira. Desta 2000 e 2001, cobrindo com o volume atrás os anos mais motivantes, fanzine-wise, de que temos memória. Namorámo-los demasiadas edições da feira do livro, algumas vezes fingindo um interesse que não seriamos capazes de prolongar numa conversa demorada - temos dias... -; finalmente coincidimos valores: três euros a pop, aquele número mágico. Senhores, este gaijo cumpre o que prega, descontem os livros, nós voltamos à banda desenhada. E que voltar: contamos revisitar estes textos com a condescendência retrospectiva das causas acudidas, fita métrica mental para as distâncias do então para hoje – para o amanhã, arriscamos. Releiam o "A Hidra das Muitas Cabeças" que lhe serve de introdução e saberão porque essa se mede em polegadas – pun intented – não em passos, podiam reeditar o livro em actualidades ad aeternum apenas caindo os anos do cabeçalho.

aquilo que faz um autor de bd é a vontade de contar – e, já agora, o modo de contar através dessa gramática mistura de imagem e texto

Pecará por anterior às tecnologias que dividem humanidade num antes e depois de todas as coisas, ie, actual como habitual. Enumeram o gameboy como gadget que substitui o pião, "condenado a prazo", também ele substituído pelo tiktok que gerações por vir julgarão talqualmente arcaico quando nos revisitarem do seu futuro pós-AI. Estamos na web que chegava às massas, anterior a redes sociais e smartphones. Como os zines, a nossa preferida, utópica, distribuída. Do seu impacto por vir sem suspeitas em registo, leiam-se as suposições arranhadas no texto seguinte, "fanzines, que sentido fazem nos 90", conclusões do relator e ever present Marcos Farrajota ("a internet é vista como um complemento por todos os presentes, ninguém pensa em largar o fetiche pelo papel / os editores e autores de bd não veem nenhuma lógica em substituir o seu suporte de divulgação por outro onde o seu trabalho não tenha sido pensado") que conta entre a assistência o falecido Geraldes Lino e Fernando Relvas, falecido. Se a inexorável marcha do tempo atravessa a bd, a bd não se atravessa no tempo.

Aparentemente o que nos traz aqui é coisa morta. Não aparece na televisão, não abre polémicas nas páginas de opinião dos jornais, não divide o país, não frequenta estádios, não envolve milhões de contos, e portanto, não aquece nem arrefece. (...) Será que vai acabar por acabar? Por que é que ninguém a respeita, poucos criticam, quase ninguém a pratica? (...) Se é verdade que precisamos de excelência não é menos verdade que é urgente duplicar a quantidade: de autores e trabalhos, de edições e editoras, de críticos e investigadores, de fanzines e leitores. É urgente duplicar o gozo: ainda nos levamos demasiado a sério.
in "hoje, a bd colóquios 1996 e 1999" 2001

Satisfação às indulgências histórico-materialista que nos conhecem, concluímos com outros ditames que trouxemos da feira:

Embora alguns historiadores acreditem que a sua função é "deixar que os factos falem por si mesmos", os "factos" só respondem a interrogações específicas levantadas pelo analista que lida com eles; fazer essas perguntas implica, inevitavelmente, uma seleção, consciente ou inconsciente, especialmente num volume tão breve e sinóptico como este.
in "História Económica do Mundo Do Paleolítico ao Presente" 2019

OS POSITIVOS, sinopse hoje e sempre: abreviamos, não nos pensem breves.

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