OS POSITIVOS

cheap

hum... esta página é antiga (2020): lê o disclaimer ou procura outra mais recente

Esta semana fizemos uma paragem não programada pela casa da especialidade habitual onde, ao contrário de demasiadas outras ocasiões, conseguimos desenterrar inesperadamente e escondido numa daquelas prateleiras impossíveis um livro que estava na nossa whishlist mental desde o ano passado. Esta é uma lista que não temos qualquer ambição de cumprir porque a) só compramos os livros que tocamos e b) apesar da evidente relevância deles para o cânone bedéfilo — saz-we!—, não são livros que entusiasmem as lojas que os deviam ter. Ser-nos-ia tão mais simples mandar vir tudo duma Amazónia pronto ao consumo, mas o prazer de qualquer leitura é-nos dependente da sua circunstância, e a sua descoberta ao acaso é, arriscamos dizer, provavelmente a melhor que podemos desejar — pelo contrário, picar 50 livros por mês numa checklist e tê-los baratuchos em casa alguns dias depois é pura prostituição: satisfação on-demand, sem significado, e aquilo de explorar o próximo. Circunstância então, depois o preço, e muito pouco impressionados com o que pedem pelos comic books desde que estes respondem com nome pomposo.

Largámos 30 euros por um livro de traço leve e solto a p/b — ie: páginas do vazio imaculado com que saíram da fábrica de papel, atravessadas com recortes ocasionais de tinta preta para criar os textos necessários à história (no sentido abrangente da coisa...), um custo que não reflecte produção e distribuição, só hype, 20 minutos de leitura num quarto da espessura de um monólito de literatura condensada que nos demoraria dois meses a despachar, duas vezes o preço desse.

Vocês expliquem aos teens que os autores querem ser pagos, mas digam-lhes de cara séria que percentagem eles recebem.

Não querendo menosprezar o esforço do artista que lhe investiu uma boa parte do seu tempo por talvez demasiado tempo, um livro, 30 euros, 20 minutos, precisamos de mais 4 ou 5 no imediato, é fazer as contas, custa-nos (pun intented!) trinta outros autores de igual valor que descobriremos sem esse imposto ao privilégio da nossa atenção se em sentido inverso a nossa dieta literária for resolvida online – in fact, onde primeiro encontrámos e até lemos uma parte considerável do livro em questão.

Continuamos a ter uma apetência particular por BD, nenhuma vontade de pagar o que nos pedem por ela, e com saudades dos nossos comix como pulp vendido ao kilo quando o meio não valia tuta-e-meia.

Não é a qualidade da obra ou os dizeres que esta contém que contestamos, mas a sua (des)adequação ao meio que o sustenta e como essa discrepância nos empurra para outros suportes de leitura. Um desencanto que se poderia revelar de diversas outras formas, nos P+ fazemos pontaria em contestações de qualidade e dizeres, mas este novo-primeiro-obstáculo crescente ao abrir do livro impede-nos o bitchin’ que lhe devia suceder nas razões que o justificam. Gostamos do livro, mas simplesmente não valem o guito. Não é uma crítica à sua importância substantiva, mas material, os preços cobrados atiram este tipo de publicação para lá do valor que têm.

Que têm.

Citamos do senhor que se seguirá:

comics are uniquely suited to provoking thought
It may seem stuck-up to say I cherish about the medium something in its potential I haven’t yet seen realized, but one of the great things about comics is how much remains to be discovered.
in veremos-na-próxima

Mesmo se cada vez mais só interessados em descobri-los nos caixotes dos saldos ou entre os danificados. O potencial está lá, mas não se realiza com esses preços.

perdidos