OS POSITIVOS

história ilustrada

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Travagem repentina e marcha atrás a capítulos já fechados para registar a peça que hoje passou pelas bancas. Vêm tarde, "pior que ficar para trás, é estar demasiado à frente": citamos letra de uma qualquer música que nos ficou em memória, e com ela abrimos esta entrada (atardada) às teses.

Anunciado na homepage do Público como "reportagem BD" e mais correctamente identificada na versão impressa por "uma história ilustrada" — piadola fácil à qualidade de informação papel vs online ou já temos maturidade suficiente para deixar esta passar? —, esta fotonovela de Carlos Spottorno e Guillermo Abril segue o modelo imagem + legenda príncipe valente que nos aborrece em boa parte da má ilustração que mais deve à infografia e supõe-se BD, particularmente popularizado para os lados do NIB onde, se não o dissemos antes dizemos agora, as suas long pieces estão a tornar-se desinteressantes. Toda uma crítica que não é do nosso âmbito: tratamos BD, não ilustração sequencial.

Excepto hoje.

Até o The Guardian inquina águas e na semana passada publicam um powerpoint ilustrado em outras guerras 24 jun 2019, Felizmente outras peças do jornal de Manchester compensam tristezas, como o "The internet, but not as we know it: life online in China, Cuba, India and Russia" 11 jan 2019

Não sendo uma absoluta novidade na (in)press nacional — lembramo-nos do Courrier Internacional ‘tuga que tem publicado reportagens desenhadas, consta, não fomos verificar... — é-o em imprensa diária recente, com pontos a dobrar por nos permitir em simultâneo na edição online um equivalente à comparação.

"Palmyra, the other side", vencedor do Prémio Inovação dos European Press Prize 2019, em linha com o pulitzer do NYT do ano passado para um "graphic narrative form": poderemos começar a ficar optimistas com o formato? Por enquanto não, não só o NYT se desfez entretanto de todo o departamento desses bonecos como entre nós é notória a estranheza do artefacto em mãos. Na versão online, mesmo que tenham o cuidado de obrigar ao uso horizontal do telemóvel,  além de retalharem a própria continuidade da narrativa retalham as fotos — porque..., são fotos, senhores — com animações dos dois lados da página totalmente despropositados.

Kudos ao El Pais que (*)Em setembro do ano passado, cof cof. apenas anima entrada à direita... pun intented!. E se imaginam que podem relegar essa inaptidão às novas tecnologias, enganam-se: no jornal impresso optam por agrupar "pranchas" por página reduzindo as suas dimensões e rodando a orientação que, por cúmulo, repõem no último spread. Num e noutro, parece-nos que "BD" é algo de que ouviram e fizeram o melhor que conseguiram para reproduzir...

Mas, again, não tratamos aqui de BD, mas de fotonovela. Recomendamos a visualização do seu La Grieta / The Crack dez 2013 e seguimos cite ao seu autor que promoveu algures um workshop no tema, "encuentro plástico entre el cómic y el reportaje fotográfico de corte documental"—

Aprendí más sobre Irán con Persépolis que después de toda una vida picoteando noticias deshilachadas en los medios de información.
Carlos Spottorno

— antes de passarmos palavra ao Paris Review via TCJ que também por aqui andou à pouco tempo:

Fotonovelas were associated with the poor and unlettered, the naive and sheltered and perhaps delusional.

Explica-se a relação à BD, portanto. Piada fácil porque, aquilo da maturidade... Outras explicações:

Fotonovela, fumetti, roman-photo—the terms betray the fact that the form never got much traction in the Anglo-Saxon realm. There is no word for it in English, exactly. Their impact has been almost entirely restricted to countries that speak Spanish, Italian, or French.

The form is simple and utilitarian, geared in every detail to meet common understanding. It is a screen for the reader to project upon while ostensibly immersed in the travails of fictional characters. It traffics in emotional hardware—longing, doubt, regret, passion, envy, betrayal—chiefly through verbal expression and mostly without dramatization. Plot points occur principally in the dialogue. Action, when it happens, is staged neoclassically; fights are choreographed and frozen, as on a Hellenic amphora or in a painting by Poussin. In their way, fotonovelas are a guide to comportment, promoting restraint and self-possession, directed at a working-class public that owns little but its emotions.
in "More Obscene than De Sade" 16 maio 2019

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