OS POSITIVOS

três zines na fnac

Regressados à grande babilónia e corrida dos ratos, encontrámos três livros que não se não se sabiam zines, denunciados pelo preço em capa.

Começamos d"O Filho do Fuhrer" 2019 de João Gordinho, aclamado pela esposa do autor, desacreditado pela sogra, ter-lhe-íamos melhor impressão se assumissem o "fanzine" que é sua condição, infelizmente vendido a livro. Enquanto zine seria uma entrada aos anais, como livro falhou-lhe o editor cuja função é orfanar obra do autor para a entregar ao leitor. Publicado pela Escorpião Azul, sabem-lhe a crítica feita: questiona-se a pertinência do catálogo enquanto se reconhece o esforço de editar novos nomes. Tememos pelos danos permanentes que esse exercício – louvável – de descoberta e boa vontade exasperará à nação a prazo publicando autores no formato errado num meio famoso pela ingratidão da sua arte e desistência avassaladora dos seus praticantes. Sofrer pelo circuito inglório dos zines é a melhor formação possível à resiliência dos ditos, e não nos pensem a hierarquizar os zines como secundários aos livros: são contextos diferentes, e o contexto determina as leituras que se fazem. Como se lê o quê decidi a importância que esses textos conseguem na nossa bagagem cultural e só quem pena pelos zines saberá arremessar a diferença.

Diferente igual, "O Gato Mariano" 2018 de Tiago da Bernarda, coletânea de pranchas recolhidas por websites e zines anteriores. Pela natureza & origem, pouco temos a acrescentar além de que apreciamos traço e atitude, consolidadas pela prática do ofício, fraca consolação pois nunca o lemos além do tropeção ocasional já que desconhecemos mais de metade dos temas que trata, uma mesma estranheza que imaginamos manter mundo e meio longe dOS POSITIVOS — desde que intencional, iz-all-good:

♪ These kids don't play my shit, I never had a top 10 ♪
♪ Maybe it's 'cause I sing about violence and depression ♪
♪ They say, "don't blame these kids, just focus on yourself, Ren" ♪
♪ Well, if they don't like what I'm doing now, then fuck them ♪

Ren in "Power"

Publicado pela Chili Com Carne que não será estranha ao universo dos zines e zines travestidos de livros, à escórpio ganham-lhes na repetição mais exaustiva de cada fornada de novos talentos por diferentes publicações das constelações dessa associação. Helás perdoem-nos se por vezes cremos que essa estratégia de descobrir novos autores coincide com a necessidade de descobrir novos públicos. Como em, "coincidem". Igualmente pela Chili, "Querosene" 2020/21, com diversos (Ana Margarida Matos, André Pereira, Cláudia Sofia, Dois Vês, Eva Filipe, Gonçalo Duarte, Joana Tomé, João Carola, Rodolfo Mariano, Rui Moura e Sofia Neto) e o claim que nos arranca um sorrir de canto-de-boca no volume que se queria o menos cómico:

Quando não há nada para fazer, acende-se um fósforo. Na terrinha, o aborrecimento combate-se com fogo e só há uma forma eficaz de matar o tempo: de uma vez por todas.
in "Querosene" 2021

Um coming of age de diferentes autores confrontados com “a indolência das pequenas cidades, vilas e aldeias de Portugal” que suspiram por ambientes mais urbanos, uma ironia que não escapa ao indolente de pequenas aldeias, vilas e cidades que vos escreve de uma das capitais mais cosmopolitas da europa e resolvido a tentar escapar-lhe por uma das regiões mais desabitadas do país. Roçámos sentimentos análogos pelo Roadtrip #1 2010 e há muito que seguimos viagem em sentido contrário, a seu tempo farão caminho igual. A bd do Rudolfo Mariano a que mais se destaca, a de André Pereira a que mais desaponta (esperávamos melhor), a de Sofia Neto demasiado curta, João Carola já tem traço só faltam linhas, etc. Mas sobretudo notamos que a representatividade neste volume limita-se aos distritos do litoral (*): senhores, portugal vai muito mais para dentro, há lugarejos bem mais obscuros aos vossos ermos se continuarem a seguir contra o sol.


*) Excepção ao baixo alentejo que geograficamente se estende à fronteira, mas situam autor(a) em Castro Verde: tst, fica-se a meio caminho — e terrinha onde este vosso truly foi fechado num armário por mau comportamento pela sua educadora de infância, reza a história.

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