OS POSITIVOS

“Sabemos, agora, que estamos na presença de mitos.”

"gostamos de pensar"

Terceira volta ao "The Dawn of Everything" 2021, que termina singelamente no título acima. Faz-se caso em interpretações alternativas à história da humanidade, conclui-se pouco, convence-se menos. Como mínimo denominador comum a linhas opostas (pensamos nos citados Yuval Noah Harari e Jared Diamond por exemplo) talvez o de sempre – e esta, senhores, é a parte que todos concordam dos registos arqueológicos que possuímos: invariavelmente as civilizações entram em colapso, invariavelmente na encruzilhada dos mesmos desafios. Uma qualquer crise sobre outras acumuladas, sempre coincidente com mudanças drásticas no ambiente, choca com a complexidade do sistema cujas instituições não conseguem adequar contra interesses instalados, consequente agitação social conduz à derrocada do sistema vigente.

A crise ambiental não tem início e fim anunciados, pode ser repentina ou estender-se por tantas gerações cujos efeitos só são percetíveis quando a música acaba, cortam a última árvore, secam o último rio, os solos são pó, a chuva não cai, a comida não chega às prateleiras do supermercado ou é demasiado cara para comprar. A agitação social que corrói contractos sociais poderá ser activa, explosiva, revolucionária, ou passiva, desencanto alongado que deixará cair de podre uma sociedade em aparência apenas quando o último adulto na sala não se predispõe a fingi-lo mais, desliga as luzes e junta-se aos hooligans que jogam lá fora no recreio com a cabeça do director.

O próprio colapso terá o seu quê de asteriscos em julgamento de valores, historicamente a passagem - caótica ou sem qualquer menção digna de nota – de uma qualquer ordem social estratificada para outra mais fluida. Livros como este recordam-nos que a vida continua culturalmente proveitosa nos interregnos de estados hierarquizados e na ausência de monumentos majestosos destinados a impressionar a autoridade sobre os demais. Livros como este também não explicam como acabamos sempre por nos reorganizar em novas variações destinadas a futura decadência. Algo inerente à natureza da espécie? (*) Encontram-no vezes e vezes em cada fim de era, porém cremos a nossa escapará ao ritual do habitual, agora que tudo acontece mais depressa, com maior intensidade.


*) Talvez um problema técnico, talvez o que nos falte seja a tecnologia certa. Hélas, cada vez mais óbvio que desenvolvemos a tech errada. Somaremos essa crise aqui.

acelerar o colapso