OS POSITIVOS

genialidade all around



Noite. Não dormimos. Não trouxemos onde desenhar. Fuck me. O jazz da telefonia é perfeitamente imperfeito: a recepção má o suficiente para impregnar um ambiente de filme nostálgico. De longe, o único jazz que suportamos: o que mal se ouve, ao longe. Antes tentámos a TV. Não temos canais, só apps, é das smarts. Puta obriga-nos a pesquisar quotidianos, encontrámos quatro comentadores num eixo tal qual mauzinho, assumem os seus tiques autoritários condenando marinheiros & sargentos que não se fizeram ao mar: que tinham de ir, mesmo que os mandássemos à sua morte, deveres e hierarquias, não se questionam ordens. Cabrões. Os comentadores. Colocam a instituição, abstração, acima do individuo, real. Quem nos manda à nossa morte merece chegar lá primeiro, sabemos a quem virar a espingarda num último motim, esse que conte. Da última vez que reparámos ainda se celebrava uma revolta de militares por estas bandas. Por outro lado, militares.... raramente estendemos resistência além-polícia, tão dispensáveis os temos. Na história há fardas para todos, insurreição ou golpe de estado, teremos de ser criteriosos, mas nunca nos ouvirão reclamar dos profissionais da guerra que se recusem a pegar em armas. Dispensamos esta ordem mundial, a sua lógica, comentadores autocratas, jazz que não o abafado numa cave que só escapa à noite no abrir e fechar de portas do freguês que vai tarde & más horas. Anyhoos, fregueses —

a análise social exacta nunca foi o forte dos românticos

Quando a função do artista é clara, directa a sua relação com o seu público, e a resposta à pergunta sobre o que ele deve dizer e como dizê-lo é dada pela tradição, pela moralidade, pela razão ou por qualquer outro padrão aceite, um artista pode ser um génio, mas raramente se comporta como tal.
in "A Era das Revoluções" orig.1962

E depois os outros.

O problema real era o do artista separado de uma função, de um patrono ou de um público identificáveis, que tinha de lançar a alma, qual mercadoria, para um mercado imprevisível, onde podia ser ou não comprada. O artista ficou só, gritando à noite, sem a certeza de ao menos ouvir um eco. Era portanto natural que ele se transformasse no génio, criando apenas o que estava dentro dele, independentemente do mundo, e desafiando um público cujo único direito era aceitá-lo exactamente como era, ou então rejeitá-lo. Na melhor das hipóteses, esperava ser compreendido por uns poucos, ou por qualquer posteridade indefinida. A alternativa era enlouquecer.
in "A Era das Revoluções" orig.1962

Dos anteriores, bastante modernos até –

Em formas de arte genuinamente populares os compositores e os escritores continuaram a trabalhar como artistas que consideravam a supremacia da bilheteira como condição natural da sua arte, e não como uma conspiração contra a sua musa.
in "A Era das Revoluções" orig.1962

– dos posteriores, dirty-little secret:

Na realidade, o génio incompreendido era por vezes amplamente recompensado por príncipes acostumados aos caprichos ou valores de despesas de prestígio, ou por uma burguesia enriquecida ansiosa por estabelecer um ténue contacto com as coisas mais elevadas da vida.
in "A Era das Revoluções" orig.1962

Que a dupla revolução tratou de desrealizar: os príncipes começaram a suspeitar dessas artes, os burgueses "empenhavam-se mais a acumular do que a gastar", libertando os nossos génios à sua predestinação: "não só incompreendidos como também pobres. E, na maioria, revolucionários." Mas de lado esses, voltando ao génio, fechemos o Dave Sim na gaveta por mais uma década (*) A trilogia destes loucos anos 20 retoma aqui e segue aqui:

First Statement: Dave Sim is a very intelligent and very talented person.
Second Statement: Dave Sim has an incredibly strong will.
Third Statement: Dave Sim is an autodidact.
Fourth Statement: Dave Sim does not see the world the same way that you or I do.
Fifth Statement: Dave Sim's ideas don't make sense to anyone but Dave Sim.
Sixth Statement: Dave Sim's ideas must be understood in order to understand Cerebus.
Seventh Statement: Cerebus will never be widely read.
in "How We Will Read Cerebus - Part I" 5 set 2011

Todos eles sumarentos no desenvolvimento, recomendamos. Aqui o que escolhemos destacar, artigo III:

Being an autodidact (...) allows you to pursue original, heterodox, potentially interesting new directions without being hobbled by conventional wisdom. But there's also no one to correct you. Dave Sim succeeded in accomplishing the impossible, and in the process became an artist of formidable intelligence, but the price he paid was the acclaim and esteem of his peers and his potential audience. Because he succeeded so definitively in what, to him, became the only possible meaningful measure of success, there's simply no one alive who can tell him "no" in a way he'll understand or respect.
in "How We Will Read Cerebus - Part I" 5 set 2011

no comics/extra pic: a good next day worth of stuff — sleepin' tonite :)

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