OS POSITIVOS

cultura de rua

Acordámos para um manifesto de acção directa no editorial do Público,

Faz parte da longa linha da História: na quase generalidade dos casos, as comunidades minoritárias e ostracizadas só conseguiram afirmar a sua identidade ou reclamar os seus direitos recorrendo a acções subversivas, radicais e muitas vezes violentas.
in "A luta contra o transfake é política, não é arte" 23 jan 2023

— onde o director fala da "coragem de romper convenções, desafiar padrões e ofender ideias feitas", de "choque para a ordem" e muitos outros "episódios desta contundência". Ainda a bocejar e esfregar olhos, café na mão, enuncia-se revolução apenas para nos explicarem que devemos permanecer sentados.

Mas se faz sentido normalizar esta acção no quadro de uma luta política, é discutível considerá-la pertinente à luz das artes do palco.
in "A luta contra o transfake é política, não é arte" 23 jan 2023

Leituras marxistas e lutas e classe à parte (*) Estamos a saltar a parte que partilhamos argumentos... , este é o discurso que esperávamos de quem poucas semanas antes também a) reconhecia a importância das greves dos docentes b) reprovava as ditas nas artes educativas:

A sua greve tem uma face de cobardia e outra de sabotagem que ficam bem ao radicalismo dos “coletes amarelos”, mas não combina com a gravitas dos professores.
in "A greve dos professores é um tiro no pé" 23 jan 2023

Esperamos o dia de vos citar desaprovações editoriais nas artes políticas. Não tivesse sido a team Bolsonaro a invadir os três poderes podíamos remeter exemplos. Anyhoos, cultura. Edição de hoje, democracia arruaceira:

A cultura (...) tem um papel muito decisivo em fomentar a igualdade dos protagonistas políticos. Nalguns países, a cultura leva os políticos a pensarem que se têm de proteger dos cidadãos, da opinião das pessoas, do descontentamento da rua. Em Portugal, além do protagonismo da rua há, ainda, uma forma de entender a rua como uma complementaridade e não como uma ameaça às instituições.
in "Robert M. Fishman: 'Em Portugal, a democracia dá protagonismo à rua'" 24 jan 2023

Dos cinquenta anos do 25 de abril: o tempo passa. Em Portugal os políticos não precisam temer os cidadãos: os media protegem as instituições. Estamos a poucos dias de expirar a assinatura grátis do jornal que nos foi oferecida, não cremos que vamos perder muito nas nossas rotinas matinais. Do que não fica, talvez a melhor metáfora vá para a peça "Ephemera, dez anos aos papéis" 22 fev 2020 que encontrámos a vasculhar os arquivos que nos abriram, história, memória, rua, "em todo o leque da comunicação possível. Da revolta de um tosco cartaz às convocatórias uniformes das centrais sindicais de mais de 100 anos da nossa história":

"Porque é da nossa memória que se trata."

Voltaremos. Instituições, democracia, e porque essas, como os punx, não são para conservar em formol, acompanham os tempos ou tornam-se anacrónicos.

cultura democrática