nill, nicles
Por razões do não-têm-nada-a-ver-com-isso, cortamos várias vezes país ao meio pelo anoitecer, paisagens a induzir ao zen antes da negridão fora de horas que nos engole pelos caminhos mais fora desses. Parte dessa viagem é-nos preenchida ao som de podcasts que se acumulam para melhor ocasião – ie, offline a quanto obrigas. Nenhuma moral de vida é-nos mais sentida do que a que sobressalta da audição massiva da actualidade muito depois dos eventos que tratam (*) Tem sido uma cena...: tudo o que vão resolver, por resolver; polémicas somadas, inflamadas, já esquecidas quando lhes retornamos; o charme, humor, bom-senso, humildade, acessibilidade de políticos por alturas do apelo ao voto, regressados ao cinzentismo pós-sufrágio; activistas pelo ambiente, prestes a ocuparem liceu e faculdade, refundarem uma sociedade moderna justa e sustentável, muitos dias, rios de tinta e graçolas depois de sabermos que já voltaram para casa. Não são os casos particulares que nos ficam, mas a emoção, as certezas, contra a inutilidade do saber, posterior, que nada importa, nenhum desvio, nenhuma pausa. Inexoravelmente, marchamos. Fica-nos o sabor, gostinho niilista que tão bem conhecemos: em acelerado numa época fundacional, mas obrigados à antecâmera das provocações, compasso de espera. As instituições não se mudam, caem – qualquer coisa nos seus alicerces, tão sólidos outrora, descobre-se que não; depois, basta abanar.
Entretanto corremos todas as horas no relógio, gastámos a noite. Desligamos motores, desligamos luzes, sozinhos lá em cima, silêncio absoluto, últimos num mundo deixado para trás, os que sobram recolheram-se aos sonhos. Queremos dormir todo o dia, queremos sempre, oh-fuck-me! como queremos dormir. Vamos acordar cedo, nada muda.
