OS POSITIVOS

é estatuto

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whaaa we'sayin'iz in "The Department of Truth", hint-hint!

O estatuto do profissional de cultura / estatuto do artista permitirá ajudar muitas pessoas que precisam do guito num momento de aflição, por essa razão apenas, lamentamos a sua demora. Ninguém disfarça que se espera desse um recurso para aviar subsídios, apoios, bolsas, ajudas, yadda, embora fizessem bem em desconfiar desta novidade pela parentalidade tripartida entre os ministérios da cultura, finanças, trabalho e segurança social. Poderíamos discorrer por mais páginas do que nos quererão ler de arte e o seu valor, quanto custa e o seu preço — OS POSITIVOS: aquilo do contra —, mas as nossas interpretações perniciosas de hoje vão-se às inerências filosóficas de tal concebimento: um carimbo estatal/oficial que separa aqueles que produzem cultura, seus profissionais agora encartados, de todos os restantes, públicos passivos cuja função se coisifica no consumir da obra produzida a montante. Conhecem-nos: a cultura resulta das relações de todo um povo, da sociedade, suas instituições, padrões e até dos parvalhões — temos a cultura que merecemos: refilem, ignorem, mas se a negam ombreiam fileiras com esses últimos. Estatuar profissionalmente actividades culturais, num plano estritamente conceptual, intencionalmente ou não, a) destitui os restantes dessa mesma competência; b) mercantiliza a cultura. Ah, e na prática também.

Não partilhamos desta definição de cultura (mas que a há, há, vende-se em qualquer estabelecimento para esse efeito). Uma distinção entre fazedores de cultura e demais é-nos ignóbil, mais um degrau no insular de bolhas de erudição, elevando artificialmente as preferências de uns sobre os gostos de outros, e pela pior formulação possível: a criação de uma classe cultural com código próprio nas finanças. Artsy et $$$, senhores: um artista sem recibo verde será agora como um livro sem código de barras, oficialmente não existe.

Mas que também os há, há, e muito mais difíceis de calcular na contribuição às finanças. Perdão, contribuição à cultura.

cultura esquecida