animais como nós

A ciência moderna deu-nos a conhecer o «como se» da liberdade humana; mas nunca nos daria recursos para que pudéssemos viver sem acreditarmos nela.
Roger Scruton in “A Cultura Moderna” 1998
Já antes vos tentámos esta nota a “quem nos segue por diatribes culturais ou militâncias ideológicas: a origem dos desassossegos culturais-pop e manifestações de rua que se seguirão em vinte-vinte-e-um?” As ciências. As não-humanas, e incluímos as culturais na exclusão: essas são reflexo, involuntário, condicionado ou reactivo, mas reflexo. Regressamos às concordâncias discordantes que mantemos com as leituras do entretanto, agora capítulo “Modernismo”. Roger Scruton coloca a alta cultura no lugar vagado pela fé numa era de descrentes, compara arte e religião e distancia-os da ciência:
O paradoxo é este: as falsidades da fé religiosa revelam verdades que importam. As verdades da ciência ocultam a realidade humana. (...) A ciência não torna essas verdades mais facilmente percetíveis, pelo contrário, leva-nos a encarar a nossa situação a partir de uma perspetiva exterior.
Roger Scruton in “A Cultura Moderna” 1998
Ó-senhor. Duma perspetiva exterior essas verdades tornam-se facilmente percetíveis. Anyhoos, a esta ideia a deixar-vos para conversa futura:
Sabemos que somos animais, partes da ordem natural, e que nos submetem as leis das forças materiais que tudo regem. Cremos que os deuses são uma invenção nossa e que a morte é exatamente o que parece. O nosso mundo foi desencantado, e as nossas ilusões foram destruídas. Ao mesmo tempo não nos é possível viver como se a nossa condição de resumisse a isto. Até as pessoas modernas são compelidas a elogiar e a culpar, amar e odiar, recompensar e punir. Até as pessoas modernas — sobretudo, as pessoas modernas — estão conscientes do «eu» como o centro da sua existência; e até as pessoas modernas tentam estabelecer ligações aos outros «eus» que as rodeiam. Assim, vemos os outros como se fossem seres livres, animados por um «eu», ou alma, e destinados a continuarem para além deste mundo. Se renunciássemos a esta perceção, as relações humanas reduzir-se-iam a um arremedo maquinal, o mundo seria destituído de amor, dever e desejo, e só o corpo permaneceria — ao comando das operações, entregue ao zapping televisivo.
Roger Scruton in “A Cultura Moderna” 1998
E se nos restam metáforas a queimar, regressaremos nesse zapping & religião por via-e-graça do SOLRAD de hoje 15 dez 2020, com comix a exemplo. Bless'em.
