OS POSITIVOS

malnourished and malformed

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No tópico de gestos que não passam de gestos, impotentes ante prepotentes. Da intro do "Toward Making Comics Against Fascism" 22 jul 2020:

Militating against fascism must begin with an understanding of what fascism is—neither a political party, nor a historical aberration. Likewise, it is neither an attitude, nor a set of beliefs, though these things determine and direct it by providing its mental scaffolding, its conventions, and its terms. Fascism is a material practice, a set of habits, a way of interacting with the world and those others that inhabit it. It is a willingness to deploy violence, to dispossess, to dominate.
in "Essay: Toward Making Comics Against Fascism" 22 jun 2020

De entre várias linhas de acção propostas "for how you can participate in these struggles from where you are", destacamos o cite mais próximo do espírito que nos guia neste espaço:

Moreover, authors can choose to make and distribute comics on the margins or completely outside of existing industrial infrastructure — make them just for yourself, make them just for your friends, self-publish them, work with smaller presses, publish them online for free or pay-what-you-can. You can trade comics instead of buying them from one another, and you can donate time, money, and/or labor to one another in the form of collaborations. You can likewise employ your technical skills to educate people, and to contribute to street action by facilitating the dissemination of important information.
in "Essay: Toward Making Comics Against Fascism" 22 jun 2020

Helás... Sem minorar essa struggle no universo dos comics, complementemos. Uma compreensão mais global de fascismo deve igualmente considerar o sucesso dos ditos: todas as boas intenções esbarram numa barreira intransponível quando aquilo da cultura só faz sentido numa cultura de cultura. Numa cultura de violência, o intelectual não é o ideologo a seguir. Seguimos do livro habitual, "Fascistas" 2011 pelo Michael Mann:

Os socialistas não tinham estômago para a guerra. Não foram os votos ou debates que decidiram essa questão, mas o paramilitarismo. Os militantes socialistas, comunistas e anarquistas foram derrotados numa batalha rápida, para a qual o seu quase pacifismo os tinha preparado mal.

Regressamos à Itália fascista da década de vinte cem anos atrás. Algures aí esconde-se uma lição a não deixar cair: as regras numa democracia valem enquanto essa vale. Já se mudam de regime queres ser rápido a repará-lo. Exemplo: o exercício da violência acusada à esquerda por uma direita histérica e ressabiada — familiar? Os miúdos pintam umas paredes, recebidos por polícias em aparato paramilitar. Latas de spray não vão parar balas, uma corrida às armas também não —

O nosso apelo à violência será arrebatado pelos nossos inimigos, cem vezes mais bem armados do que nós.
Turati expulso da liderança do PSI no congresso de 1918 in Elazar (1993) pelo Mann 2011

— mas quem pensa fazer qualquer diferença com um papelinho nas urnas deve saber que no passado uns quantos arruaceiros já conseguiram guinar todo um país na direção errada apenas porque partiam mais cabeças. Os fascistas só foram realmente a votos uma vez, em coligação com outras formas partidárias, e nem por isso ganharam deputados que ameaçassem os maiores partidos (conservadores, liberais e socialistas). Então —

A grande questão é porque se desmoronaram tão rapidamente perante o fascismo estes três movimentos rivais muito mais amplos. A resposta é dupla. Em primeiro lugar, o paramilitarismo fascista era a forma mais eficaz de mobilização do poder no terreno que se tornou mais decisivo, a violência. Em segundo lugar, alguns desses rivais, conduzidos pelas suas elites, desertaram e apoiaram o golpe fascista.

Das elites para outro dia, hoje seguimos rasto da violência. Mussolini declara em 1918 que o socialismo, como doutrina, está morto, “já só existia como ódio”, ie, sem consequência. Mesmo quando surgem alguns grupos paramilitares de esquerda como os Arditi del Popolo, esses são “mal recebidos pelos partidos socialista e comunista, que preferiam a retórica à acção real". Pólo oposto, os squadristi (milícias fascistas) "propunham melhor violência que todos os outros, visto que eram paramilitares a sério". A violência fascista “obtinha resultados, e era vista de forma positiva por muitos italianos. Esses também iam ficando fartos da retórica socialista”:

O "marxismo" e o "bolchevismo" originavam conflito, mas não o triunfo. Os socialistas falavam de revolução [...] mas na realidade viam o paramilitarismo como uma arma do inimigo da classe [e] os socialistas moderados deploravam repetidamente a violência. O principal problema dos socialistas num partido liderados pelos "maximalistas" era que pregavam a revolução mas não podiam fazê-la. Os maximalistas pouco mais ofereciam do que greves e manifestações intensas.

Um relatório à data descreve-os como:

[Incapazes] de se organizar". Actuam em massas heterogéneas no impulso da emoção passageira. Para eles é impossível uma preparação demorada ou previdente [...] hipnotizados pelo barulho e pelas multidões, iludem-se quando à sua força e perspectivas. Ao primeiro revés seguir-se-ão a desilusão e a desordem.

Da retórica e propaganda, a direita ganha-lhes como lhes ganha as ruas. Há data compilavam-se relatórios de massacres que apontavam aos anarquistas e socialistas culpas na violência, mas "a maior parte dos estudiosos considerava que a direita exagerava bastante", na qual as elites "motivadas por sentimentos violentos de vingança" faziam "uso verbal de violência verbal assustadora e histérica":

A realidade das mortes revela que a maioria da violência era de direita, a violência grave não tinha a esquerda como principal obreira. A violência era sobretudo tradicional [guerras sociais tradicionais / máfia], depois fascista, e a esquerda, ofegante, era a última nessa corrida. Os socialistas tinham duas vezes mais probabilidades de ir ser mortos que os fascistas, mas as suas probabilidades de ir parar à prisão eram também duas a quatro vezes maiores.

E aqui voltamos às elites. Só uns quantos zaragateiros de rua a matar quem os chateia não muda governos. Quem falta?

A violência de esquerda pouco representava perante a violência tradicional do Sul e a violência fascista e do Estado. As classes altas, porém, apreciavam bastante estes dois tipos de violência "ordeira".

Ah. Esses filhos da puta.

malformados