OS POSITIVOS

push comes to shove

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« vida — cultura — $$$ »

Ficámos da academia, o esvaziar das universidades e a educação reduzida a burocracias. Nessa linha aproveitamos que a alta cultura está de joelhos para a pontapear onde lhe dói e questionar o lugar que tem quando o funcionamento normal sociedade está em causa. Ao eterno debate de importâncias imaginadas — lê-se "$$$" —, algumas notas.

No PARCOS mar 2020, recuperando uma entrada mais antiga jan 2018, dizíamos que "mesmo de regresso à pastorícia num planeta pós-apocalíptico" — coincidências ou adivinhámos a pandemia a caminho? — a banda desenhada seria "um péssimo empreendimento que a ruína do esforço renderia inútil, abandonado logo na própria geração ainda recordada dos Patinhas que liam em puto". Demasiado duros, dirão? Senhores, espreitemos janela fora, shall we?

Três coisas contam nesta pandemia: vida, cultura e dinheiro. Infelizmente, estão todas muito mal distribuídas, em particular a última.
Pacheco Pereira in "Ler e saber ajudam mais a atravessar esta pandemia" 21 mar 2020

Aquilo dos três. Nesta vida, cultura e $$$ também não valem o mesmo. E começamos por prová-lo no contrário do desejável. Pacheco adianta-se e escreve das debilidades do país —

Há uma mais invisível, que é a falta de preparação de muitos portugueses para poderem ter um olhar mais sabedor, ponderado, consciente, eficaz para o que se está a passar.
Pacheco Pereira in "Ler e saber ajudam mais a atravessar esta pandemia" 21 mar 2020

— a propósito de leituras e cultura:

Bem sei do clamor que estas frases, que hoje são classificadas de “elitistas”, suscitam: “Com que então, os livros, em vez da vida?" Quem lê, seja por obrigação, por interesse ou por gosto, está mais preparado para olhar para a pandemia, aprendendo sobre ela mais e melhor.
Pacheco Pereira in "Ler e saber ajudam mais a atravessar esta pandemia" 21 mar 2020

Longe de simpatizar com elites, pelo final do próximo parágrafo JPP aproxima-se de um consenso que podemos replicar:

Há um outro clamor, mais intelectual: mas o que é isso da “cultura”? Culto, interessado pelo mundo, curioso, atento, respeitador do saber alheio, e não necessariamente apenas do saber académico.
Pacheco Pereira in "Ler e saber ajudam mais a atravessar esta pandemia" 21 mar 2020

Mas aqui acabam concordâncias e passamos ver à frieza da matemática da vida. Do mesmo pasquim onde o director vem a público apelar ao sentido cívico dos seus leitores para — cof cof — lhes pedir subscrições pelo fim da epidemia 21 mar 2020, a peça que elegemos à vossa ponderação: quando a shit its tha fan, o que fica e o que cai. Do decreto de execução do estado de emergência contam-se entre os sectores de actividade que tem de permanecer em funcionamento como comércio de bens de primeira necessidade, saúde, alimentação, àgua, luz, yadda yadda yadda, os suspeitos de sempre (bancos) mas também:

No lado oposto o que é para fechar além do desporto e das actividades recreativas, de lazer e diversão? Senhores...:

Actividades culturais e artísticas: auditórios, cinemas, teatros, salas de concertos, museus, monumentos, palácios, locais arqueológicos, bibliotecas, arquivos, praças, locais e instalações tauromáquicas, galerias de arte e salas de exposições.
in "O que tem de estar aberto ou fechado nesta fase do estado de emergência" 20 mar 2020
Riscado o que erradamente entrou na coluna de cultura.

Quando a decisão chega de fechar o acessório e dispensável, senão mesmo o recomendável a evitar, a cultura parece ter encontrado o seu caminho à coluna errada. Esta não é uma última palavra definitiva no assunto, mas às escalas de cinza necessárias pintamos com cores bastante vivas os nossos pressupostos em elites e arte: riscar o que não interessa. Da natureza dessa utilidade, a cada um. Um quadro ou uma música que nos move, independente de teorias ou escolas ou movimentos que lhe apontem, cumpre requisitos. Os mesmos que apenas cumprem requisitos dessa teoria — escola — movimento sem nos provocar reação são exercícios técnicos vazios que poderiam — deveriam? — ser despachados por dumps de inteligência artificial à coluna das possibilidades provadas e agora arrumadas (*) Pessoalmente, arrumamos quase toda a arte moderna nessa gaveta: podes fazer, não acrescenta nada que o faças.. Não basta aos "interessado pelo mundo" a sua curiosidade e atenção, é necessário que a dita produza alguma acção neste.

Os académicos teorizam, aos trolhas sobressai em acção o que lhes falta em objectivos estratégicos, e não é inocente que estes percursos afunilam por caminhos diferentes. OS POSITIVOS: do contra, por uma outra cultura que a todos aproxime. Ler, saber, executar.

creepy