OS POSITIVOS

as pessoas não contam

hum... esta página é antiga (2019): lê o disclaimer ou procura outra mais recente

são contadas

Quem vota não escolhe a pessoa, escolhe colocar-se atrás dessa pessoa: a multidão não eleva o seu preferido aos ombros, mete-se em linha na fila das opções que lhe dão.

De dietas e substitutos veggies, parte dois. Quantas mais vezes precisa um governo chumbar medidas que depois aparecem no seu programa para começares a pensar que algo vai mal? Não são os partidos a concurso que nos aborrece — de resto, a parte divertida das eleições —, são os mecanismos de incentivo e (des)responsabilização que regulam essas gentes uma vez resolvido o plebiscito para usar a pena do chefe na cabeça. Enquanto não houver uma relação directa de causa & consequência entre eleição e o que faz quem é eleito, isto é pateta senhores…

Como é pateta toda aquela coisa da democracia como soberania exercida pelo povo. Vamos pensar nisso 5 minutos, shall we?

Disclaimer. Numa democracia plena qualquer um pode candidatar-se a cargos públicos em pé de igualdade perante a lei: sim, há isso. Mesmo que essa igualdade seja constrangida por outros vectores: pensem $$$ ou media, ou $$$-e!-media. Mas para o restante deste texto não tratamos desses – ver todo o resto deste zine, all year round! —, apenas dos que na base do processo lhe conferem a sua legitimidade.

O nosso primeiro problema com a democracia representativa começa na confusão de termos. Quem eleges não te representa pela razão óbvia que não te conhece — e, nessa condição, nada te deve e é fantasioso imaginar o contrário embora muito o possas desejar. Representa-te, na medida que determinará por ti as tuas escolhas. Talvez a caracterização deste processo como democracia procurativa (*) Delegativa? seja mais coincidente ao seu funcionamento: os cidadãos consentem a terceiros — repetimos, não conheces, não te conhecem, e nada te devem — o poder de decidir a condução de tudo o que é público e privado mediante as suas próprias convicções, e não por uma média das intenções de todos aqueles que neles votaram. Pouco importa o que cada um pensa, importa só o total de cabeças contadas. Porque —

— situação segunda. Nesta democracia delegada quando atribuis a terceiros a autoridade de decidir por ti, gera-se nova confusão: em momento algum tiveste em teu poder qualquer, errr, poder. Podes atribuí-lo, podes transferi-lo, mas não o podes possuir. Esse não reside nos cidadãos mas nas instituições que os — cof cof — representam.

Exemplo: 1) se uns 9 milhões e meio de portugueses descessem hoje à rua e exigissem um novo governo, o parlamento estaria bem dentro da legalidade do sistema se os ignorasse e nada poderiam fazer todos esses concidadãos excepto demonstrar a sua frustação. Ou, menos hipotético, 2) se — excepto uns poucos no seu governo — um país inteiro não quisesse ir procurar armas de destruição massiva para o Médio Oriente, alguns de vocês acordavam amanhã em Fallujah sem saber bem porquê.

...porque! dentro da legalidade de ignorar a vontade da sua população, o governo eleito pode inclusive agir contra essa, e é tudo muito democrático. Ao votador só lhe cabe anuir as competências a quem legalmente encartado para frequentar as instituições de poder, de quatro em quatro anos é chamado a fazer fila outra vez, e nenhum poder tem sobre este exercício societal no entretanto.

Aos servos a liberdade de escolher os seus senhores na servidão.

Há excepções, mas os referendos são raros e nem todos vinculativos, e as revoluções por definição têm uma legalidade duvidosa já que nenhuma constituição acolhe a sua própria extinção de braços abertos — mais braços ao ar. Por isso, quando metes o braço abaixo para meter o papelinho recorda-te: há quem não passe procuração, e justamente por isso sente-se no direito de estrebuchar todo o ano.

o que conta