OS POSITIVOS

uma espécie de transgénero

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As reportagens do Festival de Beja já circulam na blogosfera e entre essas encontramos invariavelmente aquela obsessão específica que tanto nos causa estranheza: a fotografia da prancha em exposição. Não a dos autores, do público ou do ambiente geral, ou talvez o pormenor da página que o fotografo elege e destaca e por esse processo cria uma nova imagem... Nopes. A cópia, o mais neutro possível desprovida de quaisquer outras interferências, da prancha tal qual a poderão encontrar no livro publicado, agora em ainda outro meio.

Pausa senhores, vamos reflectir dessa escolha.

Fotografias de desenhos de Alberto Varanda, Tyler Crook e Alcimar Frazão por Nuno Amado, que este ano esteve "mais preguiçoso do que é costume" 6 jun 2019.

O “original” é tema problemático na BD com kilos de teses a acumular-se ao debate: um meio que começa com um desenho, ímpar, mas que nessa condição passa por ilustração, não BD – aquilo da sequência? Exposto — em sequência — numa parede e ainda não é BD, mas tenta sorte à arte. Quando finalmente reproduzido em massa mais ou menos descartável – e só colecionável aka valorizado nessa condição — se torna banda desenhada. Nos tempos mais simples. Agora o desenho é digital ui-o-que-fomos-dizer e nem sequer temos um original para romancear o acto da criação nem o precisamos de publicar em suporte material — e essa desmaterizalização atira ao ar anos de convenções e convencidos.

Dessas balbúrdias o caso em mãos: a fotografia per se de uma prancha de BD exposta em salão. O que podíamos filosofar de trans-meios aqui, mas conhecem a sina sobre esse vosso meio particular: confundem-no a um género. Trans-género então, deixa à segunda observação que o Festival nos trás.

Um ano sobre a sua edição e deitámos mãos a um "Os Regressos" 2018 de Pedro Moura e Marta Teives. Regressemos. Ela uma artista de linha tão competente que se aventura com aparente destreza num estilo tão próximo do realista quando o seu registo desimplicado permite. Ele crítico afamado de BD e estudioso das suas linguagens, autor de vários argumentos a desenho alheio. O seu resultado, mais do que uma construção do meio-género ou elevação da arte a píncaros de virtuosidade própria, um storyboard dinâmico que além da pequena homenagem ao “Here” 2014 de Richard McGuire não lhe encontramos ambições visuais maiores, terminando texto naquela ambivalência habitual à BD que tantas vezes nos defrauda expectativas.

Quer num quer noutro, na transformação ou repetição de cânones, este é um meio que parece esforçar-se por ser outra coisa qualquer. Fica o animatic, mas chamar-lhe trailer é legítimo:

rippado do youtube

Fácil. OS POSITIVOS: nunca fomos felizes.

felicidade é um autor quente