OS POSITIVOS

entrevista com Francisco Louçã

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Da relação BD et BE fomos reencaminhados para uma entrevista antiga a pretexto da adaptação d’"A Dívida(dura) - Portugal na crise do Euro" 2012 no "Isto é um Assalto" 2013, escrito por Francisco Lousã e Mariana Mortágua e desenhado por Nuno Saraiva (com design gráfico por Rita Gorgulho). Curiosos de imaginar alguma intencionalidade no uso politizado de linguagens visuais que tanto devem na sua associação ao universo da BD, tivemos que perguntar.

err, a folha devia ler "P+ vs politics"...

Disclaimer: na revista abordada anteriormente o nosso convidado reclama de "estratégias alternativas de luta social sem representação" como "pouco mais do que uma justificação para o isolamento", mesmo texto onde expõe de "visões anarquistas ou autonomistas de um mundo social exterior à disputa eleitoral" como "um exílio interno": duas tendências que animam as hostes por estas bandas (desenhadas). Obviamente, não iremos discutir política.

Se entretanto recuada às duas tendências dominantes, o infantil e inócuo, a relação da BD à política é extensa e variada. À laia de exemplo rápido para nos poupar o latim e avançar conversa: toda uma conferência à-lá-academia a cobrir não apenas casos isolados mas toda-uma-era! — recordando fanboys e nazis literais numa só passagem mas também os há em patinhas.

"real quick disclaimer about some of the content today: they are very much just plainly racist"
From the 1930s through today comic books have expressed the trends, conventions, and concerns of American life. Comics have been a showcase for national views, slang, morals, customs, traditions, racial attitudes, fads, heroes of the day, and everything else that make up our lifestyles.
in "The Political Influence of Comics in America During WWII" 2018

Do mesmo vídeo o cite que valerá a pena matutar no extrapolar conclusões futuras:

The most surprising influence comics had was those who actually participated in the combat. The books were seen as something to take their mind off what was to come and what had taken place. They were cheap, easy to carry, and the comic itself did not require a college education to read. It was part entertainment, part instruction manual, and part psychologist for the soldier. While the comic books did display propaganda, it was also commercialism at its finest.
in "The Political Influence of Comics in America During WWII" 2018

A ler com as vossas lentes de comparações metafísicas rebuscadas postas: i) parte entretenimento, ii) parte manual de instruções, iii) parte psicólogo de serviço, uma iv) trilogia partida que não podemos separar do seu v) suporte barato, descartável, prático, vi) massificado, vii) acessível, cuja principal influência incide sobre aqueles que realmente viii) participam do combate (o outro militar, este cultural), simultaneamente ix) preparando-os para esse e ajudando-os x) a esquecê-lo. E, claro, dividido entre xii) propaganda e xiii) $$$: demasiados os tópicos para um desenvolvimento capaz no pouco tempo que vos queremos hoje.

Voltemos então à entrevista na origem da entrevista.

Pergunta-se: "Como surgiu a ideia de transformar um livro com um tema tão denso numa banda desenhada?"

Resposta: "Sugestão do Francisco" para lhe dar um "carácter mais leve" e "chegar a um público maior", emprestando "um novo aspecto" a assuntos que "às vezes são sérios" e as "pessoas têm alguma resistência".

Pausa senhores, não atirem já pedras: há mais. Antes de passarem bola "ao Nuno" para uma "perspectiva mais prática" dessa adaptação e admitindo que o processo "não é necessariamente mais simples" que a escrita do livro anterior na sua origem, MM carrega uma vez mais na dumbificação do artefacto derivado, e queremos investir aquele suspiro com sacudir de mãos e encolher de ombros de NS como um engolir em seco quase-quase a interromper o "condensar tudo em poucas frases muito simples" que acabará por conter.

Não tirem os olhos de NS.

Eventualmente NS problematizará o desenho em honra do convento e pelo meio replicará a jeito de comparações que o Dívida(dura) não era assim tão complicado para começar, mas a mensagem geral passou: banda desenhada a nivelar por baixo. Estrategicamente, uma opção inteligente: BD e um público maior, só se for light. Subscrevemos (*) Exemplo: em preparação desta peça pedimos a FL para sacrificar a complexidade da resposta à moderna economia da atenção. Não é um limite que pomos no leitor, só uma adequação de meios., dependendo dos propósitos.

Mas artsy-wise uma declaração de guerra que anula quaisquer pretensões do meio como capaz da mesma complexidade que as restantes artes: imaginamos um Isabelinho a dar voltas no seu caixão (brincamos pessoal! cremos que o homem está vivo, só deixou de escrever no blog...), ou bloggers afectos a sensibilidades alternativas de BD e pasquins anarcas centenários 23 mar 2019 a queixarem-se.

[Da Esquerda] apostar na BD nos últimos anos para converter as massas incultas (é para isso que a BD serve como bem se sabe!)
in "Stop the Press (20)" 19 mar 2019

Não procuramos contrapor uma e outra abordagem, reconhecemos que BD não é género e há-as para todas as funções e derivações: importa-nos sim considerar a coerência à opção eleita. Admitindo pacificamente que neste espectro do quadrante ideológico há igualmente uma vontade de exploração artística nos que dele participam — conferir os autores do "Combate" notados atrás... —, não estamos a questionar-nos das intenções do artista, mas das vontades daqueles que os publicam.

Ora.

Em vez de avançar hipóteses, por uma vez, resolvemos perguntar. Simples!


partido do contra


  • De uma perspectiva militante — que não é estranho às responsabilidades de decidir os moldes do material de comunicação e divulgação de um projecto político e sua mensagem — onde cabe a banda desenhada como meio, e para que fins?
  • Na sua experiência, que avaliação lhe faz?

Francisco Louçã
Prof. universitário e activista do BE.


A Banda Desenhada é uma forma de arte, portanto é um exercício de interpretação, discussão e ação na vida real. O que mais gostei no meu trabalho com Nuno Saraiva, mas o mesmo diria do que fiz no passado com Relvas e outros criadores de BD ou ilustradores, foi sempre o exercício do humor, por vezes do sarcasmo, sempre da criatividade. Inventar sempre...

Demasiado simples. Pedimos pouco, oferece-nos menos: a resposta de um político — e um com formação económica que poderá ter previsto um excesso de défice na atenção nos nossos leitores. Repete-se MM: "é preciso condensar tudo, em poucas frases muito simples--- para que depois seja reproduzível e ainda tenha espaço para bonecos e ilustrações e etc..." Mas pausa ainda nessas pedras senhores: condensar frases simples com espaço para bonecos e etc? Repetindo também: depende, fazemos igual.

O take away maior que podemos oferecer-vos da sua resposta estará talvez numa (re)interpretação mais ampla. FL é abstracto qb para manter alguma da maleabilidade necessária a acomodar o que já foi e o que está por vir. Exemplo maior na igualmente mais pequena frase que lhe conseguimos: o terminar com um mission statement que simultaneamente inspira um futuro e — à falta de melhor palavra — esperança nesse.

Repetindo repetições, uma resposta política, e queremos dizê-lo sem o sentido depreciativo merecido dessa classe (podemos?) mas imaginando, em abstracto, política como um compromisso entre partes para o avanço comum da coisa pública. Que nos permite terminar das diferenças: no nosso sloogan "P+ versus politics" privilegiamos uma posição de confronto — por duas vezes reforçando a importância dessa expressão exacta a FL — mas por fim a sua inclinação devolve-nos um "P+: cultura e debate". À nossa intransigência, propõe diálogo. Claramente não são as tendências que animam hostes neste espaço.

Falamos de BD, claro. Continuaremos essa luta.

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