OS POSITIVOS

linhas de Lino a leigos

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Uma "triologia" por Geraldes, falecido ontem.

Aos que militaram por zines BD não há nada que possamos acrescentar em homenagem a Geraldes Lino. Dirigimo-nos por isso aos que nunca o conheceram e travam as suas guerras noutras frentes: o que podemos/devemos recordar da sua forma de ser, com uma breve transcrição de uma das últimas trocas de mails que tivemos, esta já de si com vários anos em cima 2012:

Sempre em acção!
Aproveito para lhe dar uma dica ortográfica: não existe triologia, corrija para trilogia.
Peço que não se ofenda com esta correcção.
Cordialmente.
Geraldes Lino

Gostei da sua resposta, bem humorada e a transpirar "fair play".
Não é fácil apanhar-lhe erros ortográficos porque você brinca muito com a língua portuguesa, e eu não tenho nada contra. Apenas, naquele caso, eu tinha a certeza que não era a brincar, era mesmo erro, visto ser recorrente essa confusão com "trio" e "trilogia", uma "sacanice" da língua portuguesa...
Quanto ao seu zine. Irei ver/ler, sim.
Uma pergunta que me ocorreu agora: você esteve na recente Feira Laica, em Campolide,no Palácio Laguares?

Algo desconcertante a sua resposta... A Feira Laica é uma manifestação alternativa, e provavelmente a única em Lisboa (julgo que você mora em Lisboa) que se coaduna com o seu espírito. Imagino-o facilmente com uma banca a vender exemplares antigos de Os Positivos, quando editava o fanzine em papel.
Ainda voltando à sua resposta tão negativa em relação à Feira Laica: tenho a convicção de que você não é alérgico a eventos ligados à BD e à Ilustração, porque, se não estou a fazer confusão, acho que li uma vez umas impressões suas a respeito de uma ida sua ao festival de Beja.

Viva, caro [nosso-nome-aqui] screw-u-guys
Achei bastante bem elaborada a sua teoria acerca do que aproxima e do que afasta a BD e os P+
Mas só não compreendo que encare a Feira Laica como sendo um evento de BD.
Não faço parte da organização, apenas participei uma vez com uma banca a vender os meus fanzines, e de há uns anos a esta parte apenas lá vou à procura de fanzines de BD.
E devo dizer-lhe que há sempre por lá zines de outros temas, até considero a Feira Laica o evento português mais alternativo, se não o único, com muita gente que representa outras áreas que não a BD.
Sabe que editei mais um número do Efeméride, o nº 5, dedicado ao tema Corto Maltese no Século XXI? Eu sei que as bandas desenhadas que o compõem não fazem o seu género, e por isso mesmo gostaria que o visse.
Abraço.
Geraldes Lino


Predispõe-se a corrigir-nos depois de mais uma das nossas tiradas a transbordar fel, sobrevive às nossas respostas, pacientemente obriga-nos a justificar argumentos, e sabendo que não gostando de algo, justamente-por-essa-razão, pede-nos que façamos o esforço de dar atenção à coisa? Há aqui uma moral algures, senhores.

E de histórias 21 fev 2019, deixamos a nossa.

Conhecemos Geraldes da forma habitual: descobriu um dos nossos zines no run original de fins de 90 e convidou-nos para o jantar no sítio do costume — convite aceite duas vezes porque a inexperiência da juventude abrigava dúvida suficiente para exigir repetição. (*) Confirmada hipótese cortamo-mos a todas as tertúlias em diante, mas continuámos a encontrar-nos regulamente num certo primeiro andar de um certo café na rotunda de Entre Campos. Depois desaparecemos do mapa. Quem o conheceu fará mais justiça à sua personalidade, notamos sobretudo o à-vontade com que nos recebeu ao seu mundo, uma surpresa porque na altura atravessávamos a nossa fase mais aguda de Chelas City 4Ever (*) Foto de época no final desta página: tínhamos aquele aspecto que as vossas mães vos avisam a ter cuidado com. Era habitual a pessoa à nossa frente agarrar melhor a carteira e acelerar o passo depois de nos ver a caminhar atrás, e um given que mudavam de passeio à noite se estivessem sozinhos. . Hoje cremos que seríamos apenas mais uma personagem de um universo recheado de maluquinhos a que Geraldes estaria habituado entre cómicos.

Só nos voltámos a cruzar algumas vezes já recentemente, num novo café onde Geraldes não nos reconheceu e não nos acusámos: precisava daqueles momentos para algum time alone e ele parecia querer estar igualmente sossegado. Da última vez calhámos a ficar em mesas lado-a-lado. Rabisquei um desenho no recibo antes de sair — um P+ com uma única fala, "olá" — que deixei intencionalmente à vista no meu lugar, e nessa mesma noite Geraldes recuperava "improvisos na toalha de mesa" no seu blog 7 jul 2018, algo que já não fazia desde o ano anterior e sem razões de imediaticidade óbvia além de uma aparente necessidade de revirar baú: coincidências ou desconfiado, não sei — a oportunidade de continuar esse diálogo foi-se.

outros diálogos que se vão