OS POSITIVOS

Entrevista a José de Freitas pt.2

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Consolidação do mercado: Recorde de edições. Diversidade e abrangência editorial. Multiplicação de editoras. Visibilidade da BD em bancas e livrarias. Aposta regular em autores portugueses. Edição regular de novos títulos d(e quase todas) as séries em curso. Podemos sempre querer mais — ou querer diferente — mas negar estas evidências é impossível.
in "2018: O melhor e o pior" 21 jan 2019

Do melhor. O pior é mesmo que essas evidências inegáveis são também quase impossíveis de encontrar pelos comuns mortais sem um trabalho de detective à mistura. Uma dificuldade que não é sentida por aqueles já investidos em tempo e paciência a regressar aos mesmos sítios de sempre, mas um calvário à restante humanidade que calhe — naquele dia — a querer pesquisar “BD et Portugal”, obrigados a fazer sentido de informações inacabadas espalhadas por sítios de providências suspeitas e aspecto duvidoso. Não nos queremos queixar demasiado: essa teia de ligações esotéricas entre diferentes personalidades intangíveis a estranhos é a base da nossa identidade, mas um mercado de banda desenhada comercial não se pode pautar pelos mesmos princípios do fanzine punk: não é por eles, é por nós. Se a mamã, o tio, o primo, o colega, o amigo, o chefe, o zé e a maria que não têm qualquer interesse particular em BD quisessem saber do recorde de edições e da diversidade da abrangência editorial e multiplicação de editoras ou visibilidade em bancas e livrarias ou a aposta regular em autores portugueses com a edição regular de novos títulos de quase todas as séries em curso yadda yadda yadda, mesmo no sítio onde fomos buscar a citação inicial teriam dificuldades em percebê-lo.

Nesta segunda parte da entrevista a José de Freitas abordamos a divulgação online de BD. De trás é-nos evidente que as editoras andam à boleia de terceiros para a divulgação dos seus produtos. No extremo, é aos festivais de Beja et al. que cabe a parte de leão da responsabilidade de dar a conhecer e promover as suas obras / autores ao "grande público". Mesmo considerando a paupérrima realidade nacional, questionamo-nos se não deviam as editoras tomar a iniciativa desse processo e controlar os seus próprios canais de comunicação.

POW! portal BD (*) "As click-through rates skyrocketed, advertising quickly became as important as search. Eventually it became the cornerstone of a new kind of commerce that depended upon online surveillance at scale."...
Ou não.

Nenhuma entrevista está completa sem uma pequena dose de comentários pessoais ao trajecto profissional do entrevistado. Porque o de JdF é mais que conhecido, permitam-me uma pequena digressão para continuação de conversa pelo lado oposto: a deste vosso escriba.

Iniciando actividades num pequeno departamento onde a web não era mais do que um afterthought na estratégia geral da empresa, em duas décadas passamos 1) do gaijo estranho e anti-social do multimédia que faz o site para 2) responsável por uma pequena equipe de pessoas que davam resposta à presença online dessa empresa, para 3) uma restruturação geral do funcionamento de todo o departamento onde de uma forma ou outra todos têm a web como preocupação constante. E o kick a processar: a web não é o fim per se dessa empresa, apenas um suporte ao seu bottom line. Repetindo: a web pode ser a área profissional que nos ocupa mas não é a área de negócio de quem nos emprega — esta continuaria a exercer a sua actividade se nunca tivessem inventado tais modernices. Mas não só a web se tornou inevitável cada ano que passa como aglutinou recursos atrás de recursos, e de um canto esquecido crescemos para ocupar todo um piso no qual já passaram tantas caras que desisti de saber o nome de quem não conheço, e desconheço mais de metade dos projectos em curso em cada momento.

José de Freitas devolve-nos a tempos mais simples. A sua descrição da relação entre o mercado BD / web é um deja vu de primeiras épocas (xtra) onde uma presença online surgia como misto de curiosidade e voluntarismo que ninguém tinha pedido porque a procura parecia não estar lá.

E aqui voltamos a comparações ao presente: a imaturidade do mercado era tal que a sobrevivência dos seus actores dependia de operações básicas do dia-a-dia sem margem para sofisticações internáuticas. Citamos retalhadamente JdF:

Neste momento e para a G. Floy, o online tem um impacto pequeno sobre o sucesso ou não de um título. (...) O tratar da nossa presença online, se é algo que tem de ser tratado, não está em geral na lista das minhas prioridades. (...) A verdade é que não é fácil medir o seu impacto (...) E como muitas vezes se mete no meio de, e atrapalha, o trabalho que esse sim tem resultados imediatamente visíveis (por exemplo de "vender" os livros, junto de lojas, clientes, fazendo promoções, etc...), passa regularmente para trás, como menos importante. (...) No geral, devo dizer que, por exemplo convencer os responsáveis de compras da Fnac a fazerem uma compra grande – mais 100 ou 200 do que o que costumam comprar, p.ex. — parece ser mais relevante do que qualquer iniciativa que possamos ter online para o sucesso de vendas de um título.

…porque o mercado de BD em pt é pequeno, pequenino.

O mercado português é MINÚSCULO

Nenhuma editora dispõe efectivamente de recursos para fazer grandes investimentos. Aliás, das editoras que eu conheço, só duas têm uma equipa maior que duas pessoas (a Devir e a ASA), a Levoir são duas pessoas e meia, e o resto é quase tudo one-man shows de pessoas que têm muitas outras actividades ANTES de começarem sequer a tratar de BD (incluindo a G. Floy).

O retrato de uma economia de subsistência longe de um patamar comercial / industrial que permita aspirar a horizontes mais longínquos além da sobrevivência imediata, estamos nos antípodas de um mercado concorrencial onde qualquer sofisticação possível representa uma capacidade de diferenciação que ditará as suas margens de sucesso. E se a nossa trip down tha memory lane serve à ilustração, times-r-a-changin': poucas indústrias estão a ser mais fustigadas e reinventadas como os media, nos quais se destaca com especial drama o publishing. Desta, confundindo-se com uma distro punk...

A G. Floy em Portugal é composta exactamente por UMA pessoa, ie. eu, que faz TUDO: revejo as traduções e faço a gestão da equipa que legenda e prepara os livros, faço o controlo dos livros e revejo as provas todas, trato das vendas, reuniões com clientes, tudo, até ao envio das encomendas pelo correio, stands em festivais, manter a páginas do Facebook e assim por diante, e ainda por cima a G. Floy não é o meu trabalho exclusivo (trabalho para várias outras editoras em regime de freelancing).

... José de Freitas molha os pés nos dois usos possíveis em web cruzados à edição livreira: divulgação e vendas, sem que se arrisque em nenhum de forma convincente.  Da última admite que os resultados são residuais e prefere delegar às Wook's e Fnac's online, ie: o ecommerce dos artefactos físicos a que chamamos livros — e neste ponto tentaremos o nosso coup de grâce.

Again: mais de mercados e futuro da BD numa próxima ocasião, vamos guardar munições para bater no ceguinho quando está em baixo. É um processo, bear with us... Who knows: talvez JdF devolva outro "yá vocês têm razão" que nos desarme tão completamente e se feche capítulo.

Antes, procuremos registar adequadamente o mea culpa (circa 2014-2019) de JdF no respeitante ao primeiro eixo: a divulgação online do seu catálogo, estratégia que torna a delegar em terceiros, bloggers e Facebook — a nossa deixa a essas entidades que sobrevivem em borrowed time da carolice de quem os mantem por gosto.

♪ another one bites tha dust ♪

Ora.

Estes são iniciados e mantidos por fãs, entusiastas que promovem os seus interesses e emprestam dessa atenção a outros tópicos que lhes consiga o favor por arrasto. Se os actuais projectos sofrem de travestismo profissional que lhes desnorteia os esforços — não por falta de uma qualquer qualidade mágica que um salário afecto a uma função confira ao seu produto, mas apenas e tão só porque esses empreendimentos não são empresas (e usamos estas duas palavras no seu sentido mais lato) formalmente condicionadas ao lucro ou outros deliverables mensuráveis em relatórios contabilísticos semestrais —, pode o responsável de marketing de uma editora comercial, talvez a maior em títulos recentes, apontar alguma luz e possíveis desenvolvimentos? Repetem-se pistas aos seus limites, condicionados pelas razões anteriormente referidas:

Nenhum blogue está profissionalizado, nenhum blogue consegue assegurar uma produção regular de conteúdos para além daqueles fornecidos pelo próprio dono do blogue, nenhum blogue consegue gerar fundos ou recursos para se profissionalizar.

...mas não se adiantam razões à resignação com a natureza da besta. Ou, se nos permitem a inversão de causa / efeito: onde estão os esforços para aumentar esse mercado? Se a insustentabilidade de um portal de divulgação profissional se deve à magreza das vendas de BD em Portugal, não é a web justamente o canal de eleição preferencial para ampliar esse mesmo mercado? Numa perspetiva custo / audiência, imaginarão as editoras que conseguem melhor relação em publicidade na imprensa? rádio? cof-cof: televisão? Ou talvez em revistas da especialidade? (*) Aquelas que não só não existem como também seriam mais caras de produzir do que manter um portal online? Uma terceira "Selecções de BD", mas agora grátis sff.

JdF responde taxativamente ao desafio com "a relativa pouca importância geral do online em Portugal", uma atitude que nos choca considerando o seu perfil: sendo hoje a web parte integrante do quotidiano de toda a gente e admitindo que "muitos dos nossos fãs são geralmente competentes tecnologicamente", parece-nos uma aposta substancialmente menos arriscada que a introdução de D&D ou Magic the Gathering décadas atrás num país largamente ignorante dessas modas fora nichos geeks quando geek era palavra feia. Atitude para a qual arriscamos uma explicação simples: ao contrário desses seus afazeres anteriores, uma acção isolada pela parte interessada, um portal profissional de divulgação BD dependeria de todos os potenciais investidos neste, e temos para nós que as editoras de BD em PT don't play well with others — porque aquilo de se ser pequeno e imaturo (*).

*) Neste espaço somos regularmente críticos destes convívios em circuito fechado e brincamos com o facto de toda a cena de BD caber à volta da mesma mesa de restaurante. Bastando à amostra os prefácios das bds vendidas nas coleções do Público, repetem-se nomes entre livros, os mesmos que encontramos online e fora de linha a promover diferentes leituras em BD. Mas, por uma vez, isso é uma vantagem: ironicamente, nessa mesma miniatura de intervenientes encontram-se as razões que agilizam tal projecto — em nenhum outro mercado esta particular combinação seria possível.


II



José de Freitas
G. Floy Studio Portugal

Depois de ler o que escreve OS POSITIVOS, quer na primeira, quer na segunda parte desta entrevista/diálogo, o que lhe quisermos chamar, e antes de endereçar directamente as perguntas feitas neste segundo texto, creio que talvez não me tenha inicialmente explicado bem, por um lado; e creio que OS POSITIVOS idealizam também muito as possibilidades do ‘online’ por outro.

Pensei que tinha ficado claro que à partida, concordo com a maioria do que se disse. Sim, a divulgação que a G. Floy faz online dos seus livros e actividades é obviamente incipiente e muito básica; e claramente não é uma prioridade. Pensei que as razões estavam claras: não temos (na G. Floy) recursos suficientes para fazer mais que isto. A G. Floy é composta por uma pessoa, e o projecto não funciona com margens especialmente grandes neste momento – já exigiu dos sócios um investimento grande, e não existe do nosso lado a vontade de estar neste momento a gastar muito mais dinheiro. É preciso saber ler entre as linhas: se é bem sabido, quase vox populi, que eu além de gerir a G. Floy, trabalho também como freelancer para a Levoir, a Salvat, etc... parece-me claro que se pode deduzir que a G. Floy não consegue sequer remunerar o meu trabalho o suficiente para eu não ter de me dispersar por muitos projectos. Enquanto isso não mudar, não se puderem remunerar outros colaboradores que tratem do online, etc... a situação ficará como está, as coisas continuarão a depender inteiramente de mim e do tempo que tenho disponível.

Relativamente às vendas online, o problema é em parte o mesmo, ie. falta de tempo e custos. A Wook faz um muito melhor trabalho a vender livros online do que nós. O trabalho para mim (lembro que sou a única pessoa a trabalhar na G. Floy) de tratar das encomendas uma a uma, preencher guias de envio, controlar pagamentos etc... de muitas encomendas pequenas, simplesmente não compensa. Nós fazemos algumas promoções regulares, que têm como objectivo permitir aos nossos fãs mais acérrimos (o núcleo duro, digamos) comprar de uma assentada uma série de novidades com um desconto de 20% e por vezes algumas ofertas adicionais (e a nós encaixar um valor imediato que não é negligenciáveis e ajuda muito a nossa tesouraria). Mas essas promoções funcionam porque essas encomendas são geralmente de 4 ou 5 livros, e o custo dos envios compensa, o que não seria o caso se estivéssemos num ram-ram de envios de um ou dois livros constantemente, em que os custos de envio seriam certamente uma parte demasiado grande do valor da encomenda (se considerarmos envelopes ou caixas, manipulação, custos de envio, etc...). Ou seja, a Wook é um excelente cliente (e a FNAC também, mas sinto que a Wook é muito mais eficiente nas vendas online), paga certinho e a horas, recebe um desconto comercial normal nosso, e pode mandar livros (ou livro sozinho) para todo o país com portes oferecidos e 10% de desconto. Por que razão haveríamos de tentar concorrer com isto? Não ficarão os nossos clientes online melhor servidos?

Queria também clarificar aqui uma coisa, já que pela observação que OS POSITIVOS fazem na primeira parte (Oh-no-he-didn't! Interrompemos em $$$ e! formatos físicos de livros? Surely this means war!), me pareceu que iriam enveredar por uma discussão de livros em formato digital et. al.

Nota da redação: confirmamos. Todo o nosso terceiro acto cai justamente no futuro da BD e começaríamos com uma simples pergunta (*): "está a G. Floy no negócio da BD, ou no negócio dos livros de BD?" ...Seguida de uma série de outras questões onde complicaríamos essa contextualização em termos de implicações à evolução da BD no abstracto com as nossas curiosidades particulares a armadilhar possibilidades. E este rodapé que ninguém vai ler? Toda a nossa tese.

José de Freitas responde directamente a essa pergunta. Ladies and gents, tha money shot:


José de Freitas
G. Floy Studio Portugal

Sejamos claros: a G. Floy existe para vender livros físicos. No geral, temos a ideia que os nossos clientes pertencem a uma pequena minoria de leitores que gostam de livros de boa qualidade (em termos físicos) e que no caso da banda desenhada isso não é uma atitude rara; inclusive é comum encontrar pessoas que leram um dado comic em formato digital (tipicamente pirateado) e que como gostaram, foram comprar o livro. A G. Floy quer ser uma das editoras que ocupa esse nicho de vender livros de boa qualidade a fãs de BD. Nada mais, nada menos. E lembro que nestes últimos anos parece ter ocorrido uma clara inversão das tendências, com a estagnação, e mesmo diminuição, na venda de livros em formato digital, e com uma recuperação do número de livrarias físicas – falo sobretudo de outros mercados, claro, Grã-Bretanha, EUA e França. Mas neste mercado em particular, foi também claro o papel da própria BD na ajuda ao mercado livreiro como um todo, e isso em termos de livros físicos.

De qualquer modo, e para concluir a conversa dos livros em formato digital, a G. Floy NÃO poderia vender livros em formato digital, mesmo que quisesse. As editoras com quem celebramos contratos de tradução simplesmente, ou não permitem que façamos versões digitais dos seus livros (e muitas vezes reservam-se o direito de usar as nossas traduções e legendagens para gerarem eles uma versão digital da versão portuguesa ou polaca do livro para comercializarem elas), ou exigem a celebração de contratos adicionais, com royalties muito diferentes e por vezes exigências várias que tornam completamente desinteressante o negócio. Aliando a isto os números de venda de livros digitais em Portugal, não tão encorajadores como isso, não me parece que este venha alguma vez a ser um mercado a que a G. Floy se dedique.

A importância do segmento anterior escapa sem a devida contextualização, mas a regressarem a esta entrevista nos próximos anos querem começar comparações ali. De outras observações:


José de Freitas
G. Floy Studio Portugal

Mas estas são observações que implicam a G. Floy apenas, e não os outros actores do nosso mercado: outras editoras, livreiros e grande distribuição, e claro, fãs e todos os interessados. Na verdade, o problema é o tamanho do mercado, mas também tentar perceber as razões da quebra enorme de vendas e tiragens que aconteceu entre o início dos anos 2000 e hoje. E quando OS POSITIVOS observam que “brincamos com o facto de toda a cena de BD caber à volta da mesma mesa de restaurante” estão a dizer uma grande verdade, mas se isso é uma vantagem, como também dizem, é também revelador das grandes limitações do mercado português de BD.

Que nos devolve ao presente.


enchanted creature
  • Mais divulgação = mais público = maior mercado?

José de Freitas
G. Floy Studio Portugal

Não sei se essa equação é linear. Tenho a sensação que as colecções de BD que a Levoir começou a lançar 2012, inicialmente de super-heróis, mas que culminaram nas colecções de Novelas Gráficas a partir de 2015, tiveram uma importância muito grande na recente (pequena?) expansão do nosso mercado, mas mostram um lado de “pescadinha de rabo na boca”. O sucesso dessas colecções e o facto de terem chegado a um público alargado dependeu de várias coisas. A variedade das Novelas rompeu com os grupos de leitores habituais, um público de franco-belga já um pouco envelhecido, por um lado, e um público de super-heróis visto como mais adolescente e infantil, e menos sério. Essa variedade e o tipo de BD proposto chamou muitos leitores novos – talvez mais casuais – e contribuiu na minha opinião para aumentar o número de leitores e a visibilidade da BD. Por outro lado, essas colecções serem editadas em conjunto com o Público é o mesmo que dizer “Mais Divulgação”, porque o jornal serve também de veículo de publicidade e divulgação dos próprios livros.

Nós fizemos algumas experiências com TV e outros meios, e claramente não têm grande efeito nas vendas ou na criação de leitores. A sensação que tenho é que é a própria edição de BD – ou seja, o facto de que têm saído mais livros e com mais variedade do que em qualquer outra altura – que tem sido o melhor factor de divulgação da BD. O que quero dizer é que uma campanha de divulgação centrada em títulos específicos pode não ter impacto, pelo menos não o impacto que as Novelas tiveram no mercado geral, p.ex., mas que se calhar sem divulgação também a simples variedade e exposição dos livros não seja suficiente. Posto de outro modo: porque razão não conseguimos transformar os 70 ou 100 mil exemplares vendidos de um Astérix – e que são empurrados por uma forte divulgação e publicidade – em leitores de outros livros de BD?


enchanted creature
  • Se individualmente nenhuma editora tem os recursos para uma presença web capaz, não há interesses comuns que cheguem para criar uma "Bang!" online, promovida directamente por um consórcio destas?
  • Nenhuma entidade terceira encontra nesses conteúdos meios para fins que justifiquem a associação?

José de Freitas
G. Floy Studio Portugal

Como já referi antes, as editoras portuguesas são muito pequenas e raramente têm recursos próprios suficientes para muito mais do que continuar a editar – e continuar a editar já não é pouco, dado que a edição é uma área de negócio que necessita de bastantes recursos para ser feita com a necessária regularidade (ie. alguma tesouraria para garantir lançamentos mensais, p.ex.). As únicas editoras que vejo que estariam mais capazes de fazer algo seriam a ASA, a Devir, a Levoir, e claro, a G. Floy. Em que moldes é que isso pode ser feito é difícil de saber. Houve algumas trocas de ideais sobre isso, mas nada de definido.

Quanto a terceiros, a mim parece-me que a estrutura que gere o Comic Con Portugal poderia ser um dos principais interessados aqui, porque faria sentido que mantivesse uma actividade e visibilidade ao longo do ano, para além daquelas semanas que precedem o evento em si. E teria talvez a vantagem de congregar outras áreas da cultura pop (TV, cinema, brinquedos, etc...), arrastando para si fãs de outras áreas que pudessem contactar com a BD. Lembro que o CCPT anuncia mais de 100,000 visitantes. Se considerarmos que os bilhetes custavam 35€, e admitíssemos que pelo menos dois terços desses visitantes tivessem comprado bilhetes, estamos a falar de mais de dois milhões de euros, o que, na minha opinião, é provavelmente mais do que o que se vende de BD em Portugal (e talvez mesmo MUITO mais). Ou seja, provavelmente o universo de visitantes do CCPT é maior que o universo de leitores de BD em Portugal (excluindo aqueles que lêem livros em inglês, que creio que são muitos mais do que qualquer um de nós imagina).

Mas como comecei por dizer, creio que todos nós editores de BD, estamos demasiado preocupados no dia-a-dia com a nossa “sobrevivência” como editores para esperar que daqui venha algo. Penso que devemos deixar “assentar a poeira” desta primeira fase de expansão do mercado de BD no nosso país, e passar uma fase em que o número de lançamentos estabilize, ou diminua ligeiramente, para sentirmos se essa fase de expansão significou mesmo um aumento de leitores e do mercado.

Próxima: porque idealizamos as possibilidades do online, o twist.

conclusões