OS POSITIVOS

obsessive tendencies, a reedição

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Três peças que nada as liga, fora o seu new lease on life em reedição, e um olhar mais cuidado ao detalhe. Rendamos o nosso nelas, divididos entre retrovisores para trás ou visores em frente. Subculturas, com estilo: está tudo nos pormenores. Falhas nisso e perdes algo. É sobre autenticidade, sim.


I


"O espião Acácio" de Fernando Relvas chega-nos a este espaço por graça do momento que nos encontra, exemplo discreto a supôr-se isolado mas de tendência maior. Citamos, misturamos, abreviamos "o atempado repescar de um projecto de longa data, num momento em que talvez haja uma melhor recepção e circulação destes objectos":

Consciente[s] do interesse de vários quadrantes editoriais em "recuperar a memória"  (...) olha[-se] para trás na história da banda desenhada de forma a consolidar uma tradição a partir da qual novos textos podem emergir.
in "O espião Acácio" de Fernando Relvas (Turbina/Mundo Fantasma) 10 ago 2018

Da exposição feita, destaque nosso ao alerta que aquele vosso criado nos introduz pelos perigos dos moldes em que o livro se apresenta — ie, justamente, em livro:

Vivendo num tempo em que a esmagadora maioria da banda desenhada, inclusive a mais popular circula sob a forma de códices, livros, volumes, tankobon, "novelas gráficas" e outros termos afins, e não na imprensa, revistas, jornais ou outros veículos, poder-se-á criar a ideia junto aos novos públicos de que toda a banda desenhada tem como objectivo final a sua existência com esse formato literário e tudo o que daí advém.
in "O espião Acácio" de Fernando Relvas (Turbina/Mundo Fantasma) 10 ago 2018

Perdoem-nos se o restante texto trata do autor, a obra e o mito, mas é no tópico de formatos que seguimos ao emergir de novos textos.


II


Imprensa e outros veículos de tempos idos, e Livros, segway para a segunda rendição de hoje, Scott McCloud nos seus 25 anos de "Understanding Comics": não uma reedição mas igual afrontar do passado que nos guia em frente.

Twenty-five years ago, Understanding Comics: The Invisible Art changed the way the medium is created and consumed. For a quarter century, it’s been loved, analyzed, argued over, quoted, and dog-eared by academics and fans alike.
in "Obsessive Tendencies: Scott McCloud on 25 Years of Understanding Comics" 19 jul 2018

the various debates started and have never really stopped

Da entrevista, o nosso takeaway em formas:

I do think that juxtaposition (putting one panel after another in space to tell a story) is important to comics’ core identity. Showing one panel at a time may be clear and effective enough to get the job done, but it’s basically a slideshow. It would be hard to make a case that a movie or TV treatment wouldn’t be more satisfying to the average audience. I don’t want comics to be a second-rate version of any other art form. I want comics to have an identity all its own. We’ll see if future mutations can deliver that or not.
in "Obsessive Tendencies: Scott McCloud on 25 Years of Understanding Comics" 19 jul 2018

Mas, obviamente, politics:

[pergunta] You’ve written about the digital landscape of comics.
[SMcC] I had a mountain of crazy ideas for how comics could evolve in a digital environment, and I pushed them very hard in the web’s early years. That experimental scene yielded some fascinating results, but it’s mostly fizzled in recent years. A lot of the formats that won out in the marketplace are frankly dissatisfying and boring to me, but until I get back in the game, I don’t really have a right to complain.
in "Obsessive Tendencies: Scott McCloud on 25 Years of Understanding Comics" 19 jul 2018

A nossa deixa, certamente: queixemo-nos. O que se toma por garantido e os rebeldes, os early years e o que o mercado aborrece em satisfação às average audiences, as eficiências digitais...:

[pergunta] There’s a bit in Understanding Comics about the physical process of assembling a book, which is very different now. Has digital design, assembly, etc. changed the form, or just made things more convenient?
[SMcC] Just as the profoundly non-physical world of the Web was ascending, a lot of rebel young artists began experimenting with formats. They started using all kinds of different shapes and materials. It was as if the tactile qualities of comics had suddenly become discoverable in ways they never were before.I like that interplay and I hope it continues.

When I started making comics, the physical form was taken for granted. We barely even noticed it. Now the form is more mindfully designed than ever, often because of digital tools that have given us an unprecedented level of control. Meanwhile, the formless world of digital delivery has taken over in the efficiency department; it’s now the quickest way to get from A to B. It’s pretty good balance. I would never want to go back to the way things are when I started.
in "Obsessive Tendencies: Scott McCloud on 25 Years of Understanding Comics" 19 jul 2018

...e de nunca querer voltar atrás para quando as coisas eram quando começámos, chegamos à última entrada de hoje.


III


O segway segue ways por infelicidade (*) Tão infeliz que nos recorda a edição da tradução nacional do "Libertação Animal" de Peter Singer pela Via Óptima, 25 anos depois do original e 43 anos à data. de capas: "Subcultura, o significado do estilo" de Dick Hebdige, traduzido entre nós pela primeira vez, "39 anos após a edição original", com apresentação de Paula Guerra e Pedro Quintela.

Imunes ao seu encanto serve-nos de compêndio rápido em bibliografia futura, e advertência a manter teses indefinidas em abstracto nas intrawebs sujeitas à consulta alheia. Não o criticamos como ritual de passagem, acusamos os mesmo defeitos que encontramos em toda a academia, e partimos à sua leitura com a convicção igual que o seu autor remata nas conclusões — e citamos do próprio a citar terceiros, Roland Barthes, de quem confessa adorar "a maneira como ele escreve e pela forma como combina perversidade e delicadeza":

O estudo do estilo subcultural, que, ao início, parecia devolver-nos ao mundo real, reunir-nos com o "povo", acaba por confirmar simplesmente a distância entre o leitor e o "texto", entre a vida quotidiana e o "mitólogo" a quem este rodeia, fascina, e finalmente exclui. Pareceria, como a Barthes, que ainda estamos "condenados, durante mais algum tempo, a falar excessivamente sobre a realidade".
in "Subcultura — o significado do estilo" jul 2018

Uma sugestão reforçada na entrevista a fechar edição da Maldoror, investido de funções de divulgador em parque de diversões anunciando as verdadeiras atracções:

As pessoas podem ler os livros e depois ler as coisas que realmente importam. Podem descobrir Stuart Hall e por aí adiante.
in "Subcultura — o significado do estilo" jul 2018

Sobretudo descobrir em parte oposta do livro a apresentação dos investigadores da KISMIF. Destes, notamos similitudes em eixos que nos ocupam:

i) Imediatamente arrancam da revolução industrial que ainda nos revolve — mesmo que só aflorem levemente o "carácter volátil das identidades, que procede, cada vez mais, de fluxos desterritorializados, permanentes inovações tecnológicas, mobilidade de pessoas, bens e ideias", ii) os teens, sempre os teens, estrato social problemático, nosso público e nosso género, iii) "grupo social com abundante tempo livre" sujeito a forças económicas e indústrias culturais, cuja relação cultura-consumo nos continuará a merecer desenvolvimentos futuros.

Arriscamos que as páginas introdutórias de PG&PQ nos clamarão mais atenção que as leituras a entreter-nos em passeio de fim-de-férias. Mas regressados ao Dick, e porque o somos, páginas adiante e entre outras adulações ao eterno Stuart Hall, mais similitudes porque "há por aí intelectuais interessados nestas coisas" fora das universidades:

E eu acho que fui buscar ao Stuart Hall a ideia de que tens de encontrar maneira de tornar ideias importantes e complexas sobre assuntos contemporâneos urgentes acessíveis às pessoas e dar-lhes as ferramentas com as quais possam pensar. Em parte, era sobre isso que eram os Estudos Culturais.
in "Subcultura — o significado do estilo" jul 2018

OS POSITIVOS: doin' it for tha peeps, determinados em separar-nos de formas normalizadas e atrair tamanha desaprovação. Fechamos de volta à única não-reedição de hoje, convencidos que cumpre desígnios nas três peças.

Those revolutions are still underway, now more than ever, and artists are working on many different fronts at once.
in "Obsessive Tendencies: Scott McCloud on 25 Years of Understanding Comics" 19 jul 2018

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