OS POSITIVOS

o monstro cibernético e a grande insurreição que vem

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♪ Four in the morning I'm with the squad ♪ There we go, there we go, there we go, there we go ♪

A nossa verve anti-elitista obriga-nos à análise o mundo pela sua observação sem subserviência a qualquer autoridade de saber: intencionalmente escusamo-nos à academia e servimo-nos dos media à distância que nos desmerecem — não reportam o Real, moldam a realidade. Por vezes, academia e media cruzam-se e permitem-se atalhos no entrosamento da sondagem ao zeitgeist (*) com o estado da arte em aristocracia do saber.

*) Para os amigos: geist. Pronuncia-se confundindo "g" com "x" e "ch" em "xj", carrega-se no "a" ou "aii" em lugar do "ei", mas termina em "ssst" igual com "t" mudo: se tudo soar a "ʃaisə" mais perto estás do sentido que lhe deves dar.

Nova cortesia de António Guerreiro a permitir-nos a ponte entre os dois mundos, e a terminar o seu texto consegue ainda encaixar uma referência a Walter Benjamin: perfeito. O quanto estes exemplos solitários podem justificar as nossas pretensões fica à vossa discrição, mas se o Público está para o país como outros jornais de referência estão para as nossas teses, a crónica que AG publica hoje cumpre os nossos critérios: os gentios foram expostos à informação, segue-se o vosso digest.

A tecnologia se transforma em ideologia.

Em maior ou menor grau, estamos hoje todos conectados e um processo cibernético total, do qual somos agentes e espectadores, já está consumado. E tornou-se bem claro que há hoje uma forma de governo através das redes.

A adopção de um utensílio tecnológico modifica directamente a maneira como percebemos o meio envolvente, de um ponto de vista físico, social e psicológico. As tecnologias digitais ofereceram ao capitalismo um novo campo de experimentação e de desenvolvimento, caracterizado por uma quase ausência de regras. E o Google ensina-nos que a democracia digital se baseia em filtros e algoritmos que permitem deduzir a opinião da maioria e empurrar para zonas invisíveis o que é minoritário.

A promessa inicial era bem bonita: uma sociedade e uma economia contributivas, em que a participação na produção de saber para todos seria possível. Ora, o que triunfou, afinal, foi um hipercontrolo imposto pela "governamentalidade algorítmica".
in "O monstro cibernético" 24 nov 2017

De colaboradores e resistência (esclarecida).

Podemos — e devemos — preocuparmo-nos com a facilidade com que se procede a julgamentos e se difundem hoje proclamações, veredictos, narrativas pessoais. Mas tornou-se difícil, quase impossível, mesmo a quem se quer manter à distância, não colaborar como agente.

A oposição esclarecida (não a oposição obscurantista e retrógrada) ao processo de cibernetização fez parte do programa dos protagonistas da revista Tiqqun. Das suas posições teórico-políticas decorria logicamente o apelo à sabotagem. A figura do hacker surge aí com um potencial revolucionário, aquele que sabe introduzir-se pelos lados fracos da engrenagem, que só ele conhece. O hacker espalha o pânico, a imprevisibilidade que a cibernética não pode calcular, pratica o acto insurrecional irrecuperável.
in "O monstro cibernético" 24 nov 2017

Hackers sabotadores. Da revista citada, Tiqqun, citamos do que julgamos ser o seu manifesto mais divulgado — também disponível em PT online, "L’Insurrection Qui Vient" 2007.

Parágrafo primeiro:

Qualquer que seja o ponto de vista que adoptarmos, o presente é um beco sem saída. Não é essa a menor das suas virtudes. Aqueles que desejariam acima de tudo esperar, vêem ser-lhes retirado qualquer tipo de sustentação. Os que pretendem ter soluções vêem-se imediatamente desmentidos. Toda a gente sabe que as coisas só podem ir de mal a pior. «O futuro já não tem futuro» constitui a sabedoria de uma época que atingiu, sob a sua aparência de extrema normalidade, o nível de consciência dos primeiros punks.
in "A insurreição que vem" 2010

Punx pessimistas. Recordam-se?

Sabemos que já perdemos — mas é por isso que não nos podem vencer.
in Real Nós

Do conteúdo deste, para outro dia.

"A adopção de um utensílio tecnológico modifica directamente a maneira como percebemos o meio envolvente, de um ponto de vista físico, social e psicológico."

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